Quem nunca se perguntou se estava mesmo na carreira certa?

 

Quem nunca se perguntou se estava mesmo na carreira certa?

Esta questão, seguramente, faz parte da vida de muitos jovens ainda na faculdade, mas quando a dúvida surge depois de vários anos de experiência, e muitas vezes quando se está no auge profissional?

A chamada crise dos 30 anos, na verdade pode acontecer em qualquer momento e tem inúmeros motivos:

  • Insatisfação com suas atividades
  • Incerteza sobre o futuro
  • Dúvidas quanto ao esforço empreendido ao longo dos anos
  • Pressão social (cada vez mais cobranças apesar dos resultados)
  • Mudanças de perspectivas

Entre outras situações.

 

Porém, antes de abrir mão de inúmeras conquistas é necessário avaliar se esta é uma decisão definitiva ou se está apenas baseada em um momento ruim. Isto porque, acreditem, fases difíceis existem em qualquer profissão e para qualquer profissional.

IDENTIFICAÇAO DOS MOTIVOS

“Quem pensa em fazer transição de carreira se sente frustrado e insatisfeito interiormente. É diferente quando não se está contente com uma coisa específica, por isso, é preciso nomear o que não está bom, caso contrário a tendência a tendência é generalizar. É necessário identificar se existe algo pontual, como um projeto que não evoluiu, uma semana mais estressante, se apesar das coisas boas acontecendo a pessoa não está feliz. Geralmente, quem faz o processo de mudança de carreira já está insatisfeito há mais de um ano, deixando de ser uma sensação momentânea para virar uma experiência desconfortável por um longo período de tempo” alerta Adriana Gomes, diretora do site www.vidaecarreira.com.br e autora do livro TÔ PERDIDO! – Mudança e Gestão da Carreira.

O coordenador interino do Grupo de Excelência em Coaching do CRA – SP, Wilson Gambirazi, enfatiza as atitudes a serem tomadas antes de uma transição radical. “Da mesma forma que não é aconselhável decidir sob fortes emoções, também é importante ter a consciência sobre contingências temporárias. Posso, por exemplo, ter que me dedicar temporariamente a algo que não escolheria em situações normais, mas preciso ter consciência de que essa é uma condição provisória. A outra questão importante é buscar meios de expandir o senso crítico que tenho sobre o ambiente e sobre mim. Quando penso “que é difícil tomar decisões em minha área” preciso saber diferenciar e entender essa afirmação, sobre o que está exatamente se referindo.

 

O Coach e, eventualmente a terapia. Atuam exatamente como facilitadores para que o profissional encontre a sua resposta”, defende.

 

Adriana lembra, porém, que após esse momento de dúvida o sentimento constante de quem deseja realmente mudar é o de perda de conexão com as atividades atuais. “Uma pergunta que começa a ser frequente na cabeça dessas pessoas é: o que é que eu estou fazendo aqui?” Existe um descolamento entre o que a pessoa gostaria de fazer e o que ela está fazendo, o que gera total perda de sentido. Essa é a grande ruptura e, frequentemente, tem pouco a ver com o salário. As vezes a pessoa está bem-sucedida, reconhecida e com boa remuneração, mas para ela, aquilo não basta e quem está fora, não entende muito bem essa situação.

Entretanto, passamos muito mais tempo na relação de trabalho, do que em qualquer outra relação na vida, e quando acontece essa ruptura, também há um grande sofrimento” explica.

O consultor em gestão de pessoas Eduardo Ferraz, autor do livro “Gente que convence”, dá algumas dicas para identificar se está mesmo na hora de dar outro rumo à carreira, mas também apresenta um contraponto para essa decisão. “Se o profissional odeia o que faz , tem pouca perspectiva de evolução, usa pouco seus talentos, seus pontos fracos atrapalham muito, acha a profissão desagradável, sente-se desmotivado a maior parte do tempo, seu dia a dia profissional é monótono, pensa com frequência em fazer outra coisa  e nunca recebe novas proposta de trabalho, é hora de repensar a carreira. O que está errado? É uma frase ruim (conjuntura, economia fraca, cansaço, emprego ruim) ou um problema mais grave?

É possível melhorar em alguns desses itens? Ao analisar os prós e os contra é possível entrar em um dilema ainda maior. Mudança de carreira é coisa séria e complexa, por isso deve-se fazer o máximo para ajusta-la antes de tomar a drástica decisão de mudar. Não existe carreira perfeita, pois sempre haverá dificuldades, fases ruins, decisões equivocadas e gente desagradável. Mas também haverá fases ótimas, boas decisões, gente interessante e resultados positivos”, orienta.

 

ANGUSTIAS E RISCOS

Antes da mudança definitiva, muitos sentimentos podem vir a tona. “A decisão sobre a mudança de carreira é potencialmente geradora de ansiedade e até stress, já que implica em enfrentar o desconhecido e lidar com as próprias expectativas. Supondo que o profissional seja forçado a mudar por questões financeiras, ou por não encontrar um emprego, a sobrevivência falará mais alto e eventuais sentimentos de realização profissional serão subjugados por necessidades mais imediatas. Uma vez satisfeitas as expectativas por voltar à área de origem (ou zona de conforto) prevalecerá. Mas não são raras as histórias de pessoas que “descobriram “o caminho da felicidade profissional sendo forçadas a buscar alternativas para sobreviver”. Contextualiza Gambirazi.

Ele lembra, também, que muitos fatores antigos estão associados à vontade de romper com a realidade atual e modificar a trajetória atual.” Essa decisão está fortemente associada aos valores pessoais, ou mesmo a “paixões antigas “por determinada área profissional. Em qualquer dos casos, pressupõe atitude saudável de assumir o controle sobre a própria carreira.  Há também uma dose significativa de empreendedorismo associada a esse momento, o que encoraja o profissional a correr riscos”, elenca.

Um desses riscos, porém, pode envolver sua vida pessoal, conforme alerta Adriana. “A transição de carreira tem um custo, não apenas financeiro. A mudança pode comprometer relações pessoais como o casamento, por exemplo, pois existe uma desestabilização na qual o companheiro pode achar que a pessoa mudou muito e não é mais a pessoa com quem se casou. O profissional precisa estar seguro daquilo que vai fazer, pois poderá sofrer consequências e cobranças das pessoas mais próximas.

PARA NÃO ERRAR

Quem assume o risco de mudar precisa saber que não é uma transformação rápida. Muitos processos podem levar anos para acontecer, explica Adriana. “É muito difícil fazer uma transição de carreira sozinho, porque existe uma enorme pressão social para que as pessoas não abandonem seus empregos, principalmente em épocas de crise. Amigos e familiares mais próximos, que entendem a estabilidade com grande valor, tendem a aconselhar a pessoa a ficar onde está, com o argumento de que ela pode não encontra outra coisa tão rápido. E isso também é verdade. Por esta razão é importante que ela tenha um plano B e comece a trabalhar nesse plano para que dê o passo com consistência. Às vezes, a pessoa está tão cansada de tudo que qualquer incentivo, como um plano de demissão voluntária, por exemplo, é motivo para sair do emprego atual. Mas esse mesmo PDV não dá sustentabilidade para a transição, principalmente se ela for muito radical”, aconselha.

 

Para não errar neste processo, alguns itens são imprescindíveis.

“É necessário avaliar a vida financeira de forma consistente, identificar a faixa etária, analisar o mercado, investir em formação, treinamento e desenvolvimento de competências , principalmente se for para uma área totalmente diferente. É preciso, também, ter mais segurança em si, então o autoconhecimento é fundamental. A transição é um processo difícil mas muito possível de ser realizado e, sem  dúvida, transformador”, finaliza Adriana.

 

Por Kátia Carmo

Revista Administrador Profissional

Artigo originalmente publicado em Abril/2017 Ano 40- no 370

 

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