Você não está Feliz? Que sorte!


 
 
 
 

 * ADRIANA GOMES

Além de todas as tiranias que nossa cultura e sociedade nos impõem como: seja bem sucedido, tenha boa aparência, consuma, consuma, consuma ainda você precisa aparentar ser feliz. Sorria sempre!
A tristeza, estado emocional comum, sim, comum… é um sentimento humano que expressa desânimo ou frustração em relação a alguém ou algo. Freqüetentemente é elevada a categoria de depressão, até porque parece mais “chique” ter depressão do que estar simplesmente triste.
Geralmente, por não saber o que fazer com a  própria tristeza e tão pouco com o choro, as pessoas ao redor se afastam ou dizem: “para de chorar”, “deixe disso, faça alguma coisa para esquecer.” “Pense em outra coisa.” “Isso passa.”
Na tentativa desesperada de fugir ao sentimento incomodo e se livrar dele, algumas saídas comuns costumam ser: comprar (muitas vezes o que não precisa com o dinheiro que não se tem), fazendo dívidas, comer,( na tentativa de aplacar o vazio interior) se alienar de várias maneiras, evitando entrar em contato com os verdadeiros motivos da tristeza.Mas fugir, não resolve. Alguns artifícios até amenizam a sensação por algum tempo, mas não resolve.
É preciso ser sincera, para algumas tristezas não há solução. Algumas tristezas são existenciais. Nem o tempo resolve, em certos casos pode até piorar. Não estou sendo fatalista, nem cruel, apenas realista. Certa vez assistindo a um filme chamado A excêntrica família de Antonia, a narradora diz: O tempo não apaga uma lembrança ruim, ele simplesmente confunde as lembranças e diminui a dor. Haverá tristezas com as quais teremos que aprender a conviver.
Nossa sociedade não estimula o indivíduo  a procurar se conhecer melhor e entrar em contato com aspectos negativos ou simplesmente delicados e complexos. Poucos são os que demonstram interesse real em se aprofundar nesse caminho. Uma propaganda veiculada no rádio, sobre teatro tem um texto mais ou menos assim: Uma amiga convida outra para ir ao teatro no final de semana e a outra diz: “Mas só se  não for para pensar, eu quero é me divertir!”
Ou seja, pensar sobre si mesmo, sobre a própria vida, sobre o que incomoda não é divertido, lidar com as frustrações, com as angústias requer certa dose de coragem. A mensagem que se recebe de diversos canais – revistas, propaganda em geral, TV, Cinema  –  é: “divirta-se, seja feliz!”. Só que não é isso o que de fato acontece. Não sempre, nem o tempo todo. Até porque não se consegue atingir esse objetivo fugindo do que não nos deixa verdadeiramente felizes. A felicidade do outro é incomoda. As pessoas até se “solidarizam” nas desgraças, nunca nas alegrias e felicidades dos outros, já reparou isso?
Somos uma sociedade doente que teima em não aceitar as próprias doenças. A pesquisa da IMS Health Brasil não é a mais recente, mas entre janeiro e junho de 2011, foram comercializadas no Brasil 34,6 milhões de unidades farmacêuticas contra depressão e outros transtornos de humor, um aumento de 49,1% comparado as 23,2 milhões de cápsulas vendidas no mesmo período de 2007. O consumo de antidepressivos aumentou em quase 50% nos últimos 4 anos. Por quê? A ansiedade e a obesidade figuram entre as doenças mais frequentes no mundo, por quê?
O que se quer, verdadeiramente da vida? O que você quer da sua vida? O que, de fato, é importante para você? Quem é você?
Não espere que eu lhes dê a solução, pois não há soluções simples. Pensar que não se pode fazer nada e que as coisas são assim mesmo, simplesmente se conformando ou se entupindo de antidepressivo, também não. Porém, acredito que seja imperativo enfrentar essa situação de maneira menos resignada.
Não é fácil, eu sei. Entretanto o fato de não se sentir super feliz e radiante todos os dias é mais verdadeiro do que seu contrário, e isso não é ruim. Ficar em silêncio e isolado consigo próprio e seus pensamentos pode ser muito útil. Conseguir conversar sobre essas questões com alguém que verdadeiramente se interesse por você sem fazer julgamentos e críticas, apenas fazendo perguntas, também, ajuda. O profissional que pode colaborar com esse processo é o psicólogo, pois entrar em contato com as tristezas, também constitui, em parte, o processo de autoconhecimento.
Pode chorar!
 
(*) Adriana Gomes _ Mestre em Psicologia Social e do Trabalho, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga e Coach com mais de  20 anos de carreira.  Ex-vice-presidente da Catho. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas e Coordenadora Acadêmica da área de Pessoas e do Centro de Carreiras da pós-graduação. Colunista do Portal Exame e colaboradora dos Blogs da HSM e Clickcarreira. Autora do Livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade. Diretora do Site www.vidaecarreira.com.br

6 comentários em “Você não está Feliz? Que sorte!”

  1. UAU!
    Há tempos não leio algo tão… Verdadeiro! É, como vc escreve, cada vez mais raro alguém realmente “sair da Matrix” e colocar o dedo na ferida.
    Um detalhe: alguns especialistas dizem que o aumento no consumo de antidepressivos se deve a um excesso e até abuso de diagnósticos dessa síndrome. basta o sujeito estar tristonho para lhe receitarem antidepressivos, como se fosse “doença” estar triste…

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  2. Então “Se é pra chorar a gente chora”.
    Infelizmente, é muito comum sentir se incomodado com a alegria alheia, quando de fato, se está chorando por dentro, mas não tem forças pra demonstrar esse sentimento, que é visto como para fracos, mas que na verdade só os fortes se expressam assim.

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  3. Excelente texto! Estou passando por esse momento de tristeza e “buscando” respostas, das quais ainda não sei nem as perguntas. Mas, o texto me mostrou algumas saídas.O texto veio em boa hora.
    Obrigada!

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