Especialista em falta, treinamento em alta

O ESTADO DE SÃO PAULO (SP) • ECONOMIA • 25/9/2011
Empresas que dependem de pessoal com alta qualificação investem em capacitação
Dispensável não parece ser a palavra mais adequada para descrever profissionais como Márcia Bonafé, de 46 anos, técnica do sistema elétrico de campo da AES Eletropaulo. Responsável pela inspeção termográfica das linhas de transmissão da companhia desde 1989, ela faz parte de um seleto grupo de nove eletricistas da empresa e é uma raridade no mercado – ou, como prefere o jargão na área de recursos humanos, uma mosca branca.
O apelido refere-se a trabalhadores muito especializados e, por isso, escassos. “Passei dois anos me preparando antes de assumir a inspeção”, conta Márcia, envolvida com a medição em linhas de até 88 mil volts.
Coordenadora do Centro de Carreiras da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Adriana Gomes trabalhou dez anos como headhunter vivendo na pele a dificuldade de encontrar experts. “As empresas procuram um headhunter como última alternativa, quando não conseguem encontrar ninguém para uma vaga”, afirma.
Organizações com sedes no interior têm ainda mais dificuldades para contratar moscas brancas, segundo a consultora em coaching executivo Elaine Martins. “Uma indústria química localizada em Amparo (SP) precisa buscar profissionais de fora da cidade. E não é fácil achar químicos qualificados que queiram ir para lá”, exemplifica.
Com falta de mão de obra em postos-chave, a solução encontrada pelas empresas baseia-se no treinamento de pessoal. “Às vezes, a pessoa não é formada na área, mas tem facilidade na matéria e pode ser preparada”, diz Marisa Silva, consultora da Career Center .
Os programas de estágio e de trainee são, na opinião de Elaine, outras alternativas para se gerenciar o conhecimento dos especialistas. “É importante que áreas envolvidas com o desenvolvimento de produtos ampliem a formação de pessoal.”
Na AES Eletropaulo, a técnica Márcia, cuja função envolve riscos e é feita a bordo de um helicóptero, instruiu todos os seus colegas para a atividade: “Dou dicas de postura e de segurança”. E, antes de entrarem em ação sozinhos, os profissionais passam por medições monitoradas.
Novo mercado. A criação do setor de análise de negócios na empresa de benefícios Ticket também exigiu a qualificação em gestão para trabalhadores de tecnologia da informação (TI).
“Fiz um curso de cinco meses para estruturar a área, que iniciou operações este ano”, diz o gerente de consultoria de sistemas da empresa, James Mommensohn, de 39 anos, responsável pelo departamento. Os outros 11 funcionários do setor têm formação na área de sistemas e devem passar pelo mesmo curso. “Como o analista indica soluções, conhecer tecnologia é importante”, diz Mommensohn, que pondera: a capacitação ajuda a moderar o viés técnico dos profissionais.
“Empregados nossos conhecem os sistemas da empresa – e isso facilita muito quando eles vão falar com o usuário na hora de propor soluções. Há pouca gente no mercado nisso porque é uma profissão nova, e demora para se formar um profissional.”
Para coordenadora da área gestão de carreiras da Fiap, Janete Teixeira Dias, a falta de mão de obra é mais evidente em segmentos dependentes de inovação. “Há profissionais desempregados no mercado, mas algumas atividades, por serem específicas, ficam com vagas muito tempo em aberto.”
GUSTAVO COLTRI , ESPECIAL PARA O ESTADO

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