(*) Prof. Dr. José Jorge de Morais Zacharias
No tempo das grandes navegações, toda viagem era uma grande aventura. Não havia uma tecnologia plenamente confiável, as cartas marítimas eram um tanto imprecisas, não existiam satélites, radares, GPS e outros inventos da atualidade. Confiava-se muito nas bússolas e nas estrelas, quando o céu estava claro e somente se corrigia a rota à noite.
Mestres timoneiros e capitães sabiam utilizar o sextante para determinar adequadamente a latitude orientar a navegação em alto mar, onde não havia qualquer outra referência no plano do horizonte. Buscava-se no alto a referência que faltava ao nível do que se podia imediatamente observar.
Podemos tecer uma analogia desta situação com a vida profissional, especialmente em se tratando de carreira que, como o próprio nome diz, é um caminho, uma rota a identificar, optar e seguir.
Em nosso tempo a questão da carreira e principalmente a assertividade na carreira tem se tornado um tema crucial na vida de profissionais. Muitas variáveis estão em jogo na busca da realização profissional.
Esta escolha pode se mostrar como um navegar em alto mar, situação em que em qualquer direção para que se olhe não há referência para tomada de decisão, ou mesmo entendimento sobe que região do oceano profissional se está. A exemplo dos antigos capitães, resta-nos olhar para cima, durante a noite.
As constelações bem podem representar os aspectos sociais e familiares que influenciam a escolha da formação no final da adolescência, as experiências profissionais ou educacionais vividas. A influência da estrutura familiar, das aspirações e desejos de realização pessoal, das aptidões e interesses, das crenças e valores, a busca do sentido de vida. Outro aspecto relevante se materializa nas características do mercado de trabalho.
Várias são as constelações e infinitas as estrelas!
No entanto, elas somente podem ser observadas a noite, em que o brilho intenso do sol não está presente. É necessário certo recolhimento, um distanciamento das inquietações mais rotineiras que impedem a imersão na escuridão da própria alma.
O questionamento individual sobre a própria carreira pode surgir quando se está sem emprego e há a necessidade de se encontrar uma saída criativa para esta situação, incluindo-se a investigação de outras habilidades até então não consideradas.
Esta inquietação pode igualmente surgir quando o profissional resolve buscar a realização de um interesse preterido tempos atrás, em detrimento de uma carreira mais rentável. Pode ser a oportunidade de realizar um sonho.
Pode surgir de um profundo sentimento de inadequação profissional, que é composto de vários elementos como o clima organizacional, falta de motivação e reconhecimento no trabalho, insegurança pessoal, baixa auto-estima dentre outros.
E por último, a perda do sentido de vida na carreira em que tanto se investiu e da qual tanto se esperava.
Obviamente as coisas não se mostram tão claras assim para o profissional, pois ele está imerso em um mar de conflitos, culpas, cobranças pessoais e muitas vezes um sentimento de vazio e inutilidade. Os esforços para sair deste emaranhado de idéias e emoções tendem a aprofundá-lo mais ainda.
Sintomas como desinteresse, ansiedade ou tristeza costuma acompanhar este estado de espírito, tornando o profissional mais desadaptado. Cada novo dia de trabalho pode alimentar estes sintomas mais ainda.
Para os profissionais que se encontram nesta situação a orientação de carreira pode fornecer reais condições de ajuda.
Necessitando encontrar uma rota, imerso na noite, na escuridão da incerteza e da insegurança, olhar para as estrelas é condição vital para retomar o rumo da vida mas, como entender o que o brilho cintilante e a posição de cada uma quer nos dizer?
Se faz necessário uma carta celeste, com a posição de cada estrela e constelação; bem como a habilidade de manusear bem o sextante. Com estes dois elementos, de medição e de significados, podemos compreender qual a latitude em que estamos e qual rumo devemos seguir. Estes instrumentos são adequadamente utilizados pelo consultor de orientação de carreira que, pela experiência e conhecimento, poderá ler e significar para o profissional seu posicionamento no mundo profissional.
O consultor de orientação de carreira utiliza-se de instrumentos adequados para analisar as variáveis que compõe o contexto profissional e pode auxiliar o cliente a compreender quais os elementos limitadores presentes em sua carreira que impedem a realização pessoal.
Aceitando o profissional de forma isenta de julgamentos e utilizando-se da escuta profunda, o consultor poderá perceber a dimensão humana de seu cliente, procurando equacionar a carreira com o todo da vida, equacionando as constelações com o navio na construção do sentido e significado da aventura individual.
O consultor construirá, juntamente com o cliente a ponte entre seus anseios, sua história, seus talentos e as possibilidades de realização de seus potenciais pessoais e profissionais.
A orientação de carreira parte da avaliação do que se é e se tem, para a construção do possível mais adequado e criativo para cada cliente, em vista de sua auto realização.
A nau poderá atingir o porto a que se propôs ou,até mesmo, descobrir novas terras em que manam leite e mel!
(*) Prof. Dr. José Jorge de Morais Zacharias
Psicólogo, analista junguiano pela AJB e IAAP (Zurique)
Mestre em psicologia escolar e doutor em psicologia social pela USP
Criador do inventário de tipos psicológicos QUATI e DTO
Docente no Centro universitário Unipaulistana
zacharias@terra.com.br