O Interesse pessoal acima do coletivo Aspectos da Vaidade

Adriana Gomes (*)

Esse tema tem me feito refletir. Recentemente, numa conversa com um colega de trabalho sobre as relações das pessoas nas empresas e seus interesses o tema surgiu e comecei a ter “insight”, como fichas caindo num cofrinho. Cheguei a escrever recentemente, num artigo, sobre a ganância ser um dos fortes sentimentos que moviam a sociedade.
Porém, depois dessa conversa, meu pensamento foi para outro caminho e cheguei à conclusão de que a ganância pode ser fruto da vaidade.  Mas o que é a vaidade?
Segundo o dicionário Houaiss, é a qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória; valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros. Pode ser também o desejo exacerbado de atrair a admiração.
A palavra vaidade tem sua origem do latim vanitasvanitatis – cujo significado é “vacuidade; inutilidade; inconstância; futilidade; orgulho vão, o que é próprio do vácuo”, ou seja: vazio!
Muito se fala em nossa sociedade da vaidade relacionada à aparência física, da muita importância ao que se aparenta ser/ter em detrimento daquilo que é. O parecer versus o ser. Mas não é sobre a aparência física que quero comentar nesse artigo e sim sobre um outro aspecto que chamarei de vaidade social.
Trata-se da necessidade e do impulso que o indivíduo tem de atrair a atenção para si, da super-auto-valorização, seja das próprias idéias, projetos ou interesses;  das vantagens diretas ou indiretas que pode obter através da posição hierárquica que está, dos seus relacionamentos profissionais e/ou pessoais, de usufruir da presença de pessoas com algum destaque no cenário social em que está inserido, bem como, o desejo de ser admirado, valorizado e reconhecido por isso.
Gosta da exclusividade, aprecia estar acima dos outros, respirando o ar rarefeito da estratosfera, mesmo que essa estratosfera não esteja mais que alguns passos adiante dos demais. Certa vez conversando com um profissional que trabalhava com eventos  ele me disse que teria que incluir em um de seus projetos, já exclusivo, uma área “VIP-VIP” com diferenciação de produtos e serviços para atender ao pequeno e seleto público de vaidosos sociais.
A vaidade, muitas vezes está colocada acima dos interesses da comunidade, da sociedade e da organização. O que mais importa para o vaidoso é a admiração que ele possa angariar e não o interesse do grupo, ou de uma causa. A causa maior do vaidoso social é ele mesmo.
Apenas a título de exemplo, situações cotidianas tais como vetar promoções de colaboradores com desempenho muito superior, inviabilizar projetos e processos que não lhe tragam prestígio ou visibilidades, mesmo que sejam interessantes para a organização, se apropriar de projetos ou idéias de colaboradores, visando autopromoção.  Diz não se importar com a opinião alheia sobre suas idéias e projetos, mas sente-se frustrado se não atinge o seu objetivo. Tende a ser centralizador, pois deseja, que toda atenção esteja voltada para si.  Esbarramos também na falta de ética, mas isto será tema de outro artigo.
Assim como no mito de Narciso, uma apologia à vaidade e a insensibilidade, o vaidoso social se assemelha ao jovem que, apaixonando-se profundamente por si próprio, inclinou-se para admirar o seu reflexo na água, acaba por cair na lagoa e morre afogado. Curioso, também que o prefixo grego Narke, de narcisismo, quer dizer entorpecido e dá origem à palavra narcótico. O vaidoso social é, portanto, um entorpecido, narcotizado por si mesmo e seus interesses.
Essa busca excessiva pelo olhar do outro, pela admiração e reconhecimento, pode estar associada a uma grande fragilidade emocional, a inseguranças profundamente arraigadas e amalgamadas ao longo da história de vida dessas pessoas, ao medo constante de nunca serem boas o suficiente.
Os motivos, conscientes ou não, do vaidoso social, podem ao longo da sua trajetória profissional, acabar por realizar os seus piores temores, ou seja, a solidão e o ostracismo. As relações pessoais e profissionais tornam-se tão frágeis e superficiais, pois estão baseadas na obtenção do reconhecimento instantâneo que são efêmeras e passageiras.
Vale lembrar, entretanto que nossa sociedade valoriza e até incentiva algumas das características aqui atribuídas ao vaidoso social, tais como atrair a atenção para defender as idéias, projetos ou interesses. A diferença em ser uma virtude e não um defeito reside na motivação.
O vaidoso social tem por motivação a autopromoção enquanto que essas mesmas atitudes quando empregadas para um bem social ou coletivo tornam-se dignas de consideração e respeito.

(*) Adriana Gomes
Mestre em Psicologia (CRP 30.133), Coach de Carreira.Experiência de 21 anos nas áreas organizacional e clínica.  Ex-vice-presidente do Grupo Catho. Professora da pós-graduação da ESPM na Cadeira de Gestão de Pessoas, atuou como Professora do Instituto Pieron de Psicologia Aplicada no curso de Especialização em Orientação Profissional. Orientadora de Carreira para alunos do curso de MBA da ESPM, membro da ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, Autora do Livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade LCTE, palestrante e Diretora do sitewww.vidaecarreira.com.br  Contatos:adrianagomes@vidaecarreira.com.br;Twitter. http://twitter.com/VIDAECARREIRA

6 comentários em “O Interesse pessoal acima do coletivo Aspectos da Vaidade”

  1. Texto perfeito! A descrição perfeita para uma pessoa que encontrei há pouco tempo atrás na minha vida profissional e que por esta vaidade fez de tudo para me prejudicar, e conseguiu, já que ocupa um lugar estratégico em uma grande empresa brasileira, sempre desmerecendo as realizações, escondendo e engavetando ideias no único intuito de não promover por se sentir, de certa forma, ameaçado.

    Responder
    • Todos nós estamos vulneráveis a esse tipo de situação Michel. As pessoas não tem segurança no que fazem e acabam por prejudicar as outras por se sentirem ameaçadas. Várias vezes já me prejudicaram também

      Responder
  2. Parabéns pelo texto! Todos, sem exceção, somos vaidosos, o que realmente faz mal é o extremismo. O interessante é que pessoas vaidosas nesse extremo, sempre conseguem o que quer.

    Responder

Deixe um comentário