Os Seis Degraus e o Networking

(*) Luís Henrique M. Paulo

Com certeza você já esteve numa festa, rave, barzinho, casamento, batizado ou, entre uma piada e outra, num velório no qual foi apresentado a alguém e, por alguma coincidência qualquer, escutou a famosa frase “mas que mundo pequeno, hein!?”.
Há 40 anos o sociólogo Stanley Milgram foi o primeiro a levar essa frase a sério. Em 1967 ele incumbiu 200 pessoas em Omaha, Nebraska, e 100 outras em Boston a localizarem determinadas pessoas através dos seus conhecidos. Milgram fornecia apenas o nome e a profissão, nada mais, e observou que seus investigadores passaram por uma média de seis etapas até chegar aos investigados. O estudo de Milgram virou a teoria “Six Degrees of Separation” (”seis degraus de separação”), algo até próximo de uma lenda urbana, que postula que todas as pessoas no planeta inteiro estão conectadas por uma rede de seis pessoas – de Osama Bin Laden a Júnior Baiano, de Michael Jackson a Gaúcho da Fronteira, de você a Gisele Bündchen.
Aliás, falando em Bin Laden, se bastam apenas seis contatos por que ninguém encontra o homem? Bem, esse é outro assunto.
Voltando à questão, a teoria afirma que não é necessário conhecer todos os elos da corrente. Você precisa apenas identificar o primeiro, aquele que o levará o mais próximo possível do “alvo” e torcer para que os demais também tenham sucesso. Se isso era possível nos anos 60 através de cartas postadas em Correio, com o advento da Internet e do e-mail a teoria se tornou mania.
Além do trabalho sério de cientistas da Universidade de Colúmbia, que tentam mostrar o quanto o mundo ficou ainda menor através de um programa (smallworld.columbia.edu) a teoria já se transformou em peça de teatro (“Six Degrees of Separation”, de John Guare), em filme róliudiano (“Seis Graus de Separação”, com um estreante Will Smith), em jogo (The Oracle of Bacon) que consegue relacionar o ator Kevin Bacon à veterana atriz Fernanda Montenegro e no site Star Links (www.cs.virginia.edu/oracle/star_links.html), criado e administrado por estudantes do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Virgínia. Através dele, conclui-se que quase todo mundo já trabalhou com Rod Steiger (quem?!?).
Porém, mais conhecidos que estes são os atuais sites de relacionamento. A base de funcionamento do Orkut é a própria teoria, pois graças a ela o engenheiro de software responsável pela rede de relacionamentos, Orkut Buyukkokten pôde estabelecer uma relação intermediária entre todos os usuários. Além dele, é possível experimentar também o Facebook, Linkedin, MySpace e dezenas de outros. Dentre as que “conhecemos menos” tem até uma rede brasileira, focada no nicho de RH, Marketing e TI, a Via6.
Muito além de procurar velhos amigos, apenas manter as fofocas atualizadas ou demonizar algum desafeto, as redes têm a atualíssima função de trocar dicas sobre empregos, negócios, oportunidades comerciais e profissionais. Ou, simplificando, o tal do network.
Há milhares de sites, textos, manuais, publicações diversas que dão dicas sobre como fazer ou manter sua network, algo considerado altamente valioso atualmente, nessa era do fim do emprego (procure pelo professor e economista Jeremy Rifkin no oráculo, digo, no Google). Há até lições sobre “networking avançado” ou “como fazer uma boa network mesmo sendo introvertido” (essa eu guardei pra estudar com calma).
Especialistas de recolocação e RH são categóricos ao afirmar que as redes sociais são hoje a principal maneira de se preencher uma vaga. Foi-se o tempo em que os classificados de jornais e sites de empregos realmente recolocavam ou reposicionavam um profissional no mercado.
Se você é um Procurador (de emprego), saiba que networking não é apenas ir a eventos, happy hours, baladas ou distribuir tresloucadamente seus cartões de visitas a recém-conhecidos. Existem milhares de profissionais fazendo isso e pouquíssimas vagas disponíveis. Resumindo: você precisa fazer mais e melhor.
Tenha foco, objetivo, apresente-se não como um pedinte, mas uma ajuda a alguma eventual necessidade. Mantenha seus amigos informados sobre sua situação e o que você anda fazendo. Não pare de produzir, seja lá o que for. Escreva sobre sua área profissional. Publique – há vários sites sedentos por conteúdo. Esteja presente na Internet.
Se, por um lado, essas redes facilitam o duro trabalho de se recolocar ou encontrar nova posição, elas também o escancaram na Internet, deixando-o acessível e visível por todos. Portanto, cuidado com o que você publica por aí…
Como a teoria de Milgram, academicamente comprovada, prevê que apenas seis pessoas o separam do “alvo” (que pode ser o responsável por decidir quem vai ocupar aquela cadeira tão desejada) já é mais que hora de você colocá-la em prática. Analise sua rede de contatos, separe em grupos de interesse e mãos à obra. Cadastre-se nesses e em outros sites de relacionamento e não descuide: responda rapidamente os e-mails que chegarem, lembre-se de que você é agora “um produto à venda” e que qualidade é melhor que quantidade.
Mas controle suas expectativas: o mercado de trabalho é concorridíssimo e os resultados podem não surgir de imediato.
Um estudo da Universidade de Columbia mostra que mensagens eletrônicas enviadas de um ponto a outro no planeta precisam quase sempre passar por uma rede de aproximadamente seis pessoas. A pesquisa reuniu mais de 60 mil voluntários que se inscreveram para participar do projeto pela Internet e que deveriam tentar enviar e-mails para uma entre 18 pessoas indicadas em 13 países. Assim como na pesquisa feita nos anos 60, a mensagem não podia ser enviada diretamente ao destinatário nem utilizar truques como procurar pessoas por mecanismos de busca. Os participantes tinham que enviá-la para alguém conhecido que achassem que pudesse ter relação com o alvo dos e-mails. Das mais de 24 mil correntes iniciadas, apenas384 conseguiram chegar aos seus destinatários. E o que foi decisivo para o sucesso ou fracasso das cadeias, segundo o estudo, não foi a distância do alvo (geográfica ou social), mas o interesse e a boa vontade das pessoas em continuar repassando as mensagens.
Por isso, tente ser amigável, oferecer algo de algum valor (bonito, engraçado, curioso, científico, sei lá). Tente se destacar na multidão, sem perder as estribeiras. Inundadas por e-mails e SPAMs, as pessoas não darão muito crédito se você não for, pelo menos, sincero.

* Luís Henrique M. Paulo
Publicitário com MBA em Marketing, quinze anos de atuação em áreas de Comunicação, Marketing e Desenvolvimento de Produtos em empresas nacionais e multinacionais de grande porte no segmento de serviços.
contatos: henriq@uol.com.br

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