* Adriana Gomes
Estou impressionada com a quantidade de jovens que me procuram com idade entre 23 e 29 anos sentindo-se velhos, ou atrasados em relação ao que imaginavam quanto ao seu desenvolvimento de carreira. Parece uma epidemia. O que está acontecendo? É preciso tomar consciência de que o mundo mudou, e falar só, não tem adiantado muito. Mas vamos refletir sobre a questão.
Os jovens, principalmente os de classe média e média alta, tem permanecido mais tempo no banco das escolas antes de conseguirem ingressar no mercado de trabalho. Não basta só a graduação, as exigências mercadológica, exigem mais qualificações − dois idiomas, conhecimentos e habilidades específicas, domínio de ferramentas de informática − portanto, é preciso compreender que os jovens estão saindo da faculdade por volta dos 22/ 23 anos, some-se a isso uma pós-graduação, portanto uma média de 23 /25 anos. E aí se sentem atrasados em relação a uma suposta ascensão profissional.
Alguns veículos de comunicação e sem dúvida a atitude de muitos recrutadores, endossada pela demanda das organizações, engrossam o coro de que se buscam apenas os “talentos” que serão super executivos antes dos 30 anos!
Atenção! Façamos uma crítica ao que está acontecendo. Não existem só posições para executivos nas empresas. Há um conjunto de profissionais das mais diversas áreas que devem existir para que um negócio prospere. Mas há um viés que valoriza o executivo em detrimento de outros profissionais, como especialistas e técnicos.
Há um massacre velado sendo apresentado aos nossos jovens que, por um lado exige cada vez mais qualificações, e por outro, nem mesmo aqueles que seguem regiamente essas regras, conseguem um bom emprego. Logo, é necessário estar atento ao discurso que está sendo pregado. Onde se deseja chegar com essas atitudes? Cada vez mais os jovens sentem-se desajustados em relação ao seu desenvolvimento profissional. Mas não é só isso. Há um outro processo de miopia severa acometendo as organizações no que diz respeito aos mais experientes.
Tendo em vista que a expectativa de vida dos brasileiros subiu para 71, 3 anos em 2004 quando em 1980 era de 62,6 anos e que segundo a pesquisa mensal de empregos, houve um aumento da participação de pessoas com mais de 50 anos no mercado de trabalho (dados do IBGE), é possível dizer que os profissionais estão permanecendo mais tempo ativos.
É fato que essa idade começa a ser mais limitadora para a prospecção de um emprego formal, com carteira assinada. As exigências são muitas no que se refere às qualificações e também há a questão do preconceito. A idéia de que pessoas mais seniores sejam menos flexíveis, tenham mais resistência a novos aprendizados e que também custem mais caro para as empresas. Muitas vezes, entretanto, é nessa idade também que o profissional sente-se mais maduro, qualificado e com amplo domínio da sua área de atuação.
A volta ao banco das escolas por pessoas mais maduras, é também cada vez mais comum. Há cerca de cinco anos era raro encontrar profissionais seniores em sala de aula, hoje tenho uma classe de pós-graduação com cerca de 20% dos alunos entre 40 e 55 anos. Sem dúvida alguma, uma grata surpresa e um indício de que voltar aos estudos mais do que uma necessidade está sendo um grande prazer.
É importante ressaltar que, desde que ingressa no mercado de trabalho, os profissionais têm a necessidade de atualização constante, independente da idade, portanto devem equilibrar a atuação profissional com a reciclagem, visando manter a empregabilidade. Eu entendo que tudo isso é bastante difícil, mas uma das competências que considero mais importante nos profissionais, atualmente e daqui para frente, é a capacidade de gerenciar o seu tempo de modo a equilibrar, da melhor maneira possível, o seu tempo dedicando ao trabalho, à família, às relações sociais (que vão além das relações de trabalho), a reciclagem e ao autoconhecimento.
O autoconhecimento é de grande valia para um bom gerenciamento de carreira. Alguns dos autores mais importantes da área de gestão de carreiras, identificam o autoconhecimento como um dos fatores que faz diferença para a auto-gestão. Cabe informar que o autoconhecimento não é um “lugar onde se chega”, mas é um processo para a vida inteira. É preciso, entretanto, adotar uma postura aberta à aprendizagem, ter disponibilidade para aprender com os próprios erros, reconhecer a importância do outro para identificar pontos a serem melhorados, o que algumas vezes se torna uma grande dificuldade quando se chega a uma idade mais madura. Aprender com alguém mais jovem pode ser desconfortável, mas entendendo que as novas tecnologias estão cada vez mais nas mãos dos mais jovens, esse desconforto deve ser enfrentado.
As organizações, por sua vez, poderiam estar mais sensíveis às questões da longevidade e tirar proveito da senioridade e experiência acumulada por muitos profissionais da sua empresa.
O emprego formal, também não é a única saída, seja para os jovens ou para ao mais experientes. Identificar quais são os seus pontos fortes, ou seja, o que sabe fazer bem, pelo que é reconhecido e valorizado pelos pares, superiores e colegas, quais são as competências em que mais se destaca positivamente, bem como o que gosta de fazer e projetos de vida. Ter uma visão de futuro para si facilita a identificação de alternativas para a jornada que segue após aos 50 anos. Uma segunda escolha profissional, um sonho que foi abandonado quando jovem, algum projeto interessante que surgiu numa época em que não podia assumir, mas que despertou seu interesse. Essa reflexão poderá se útil para a identificação de alternativas de novas oportunidades e desafios profissionais.
Mas, o mais importante é conseguir identificar o que te move? Quais são as suas motivações, valores pessoais e aproximá-los de seus projetos de vida. O trabalho poder ser uma grande fonte de satisfação. Devido ao grande espaço que toma em nossas vidas, se conseguirmos fazer desse tempo um tempo mais agradável, melhor. Vale lembrar, como costumo dizer, que não separamos a vida no trabalho das demais esferas de nossas vidas, portanto o cuidado com a saúde é importantíssimo para a continuidade de uma vida produtiva e de realizações em qualquer idade.
Adriana Gomes: Mestre em Psicologia – UNIMARCO, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga, (CRP 30.133), carreira de 19 anos nas áreas organizacional e clínica (Psicoterapia e Orientação de Carreira). Ex-vice-presidente do Grupo Catho, empresa onde atuou com Executive Search e Outplacement. Professora do curso de pós-graduação da ESPM na Cadeira de Gestão de Pessoas, Professora do Instituto Pieron de Psicologia Aplicada, membro da ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, palestrante e Diretora do site www.vidaecarreira.com.br