Adriana Gomes *
Esta questão tem sido muito discutida nos últimos anos e não apenas no Brasil. Após mudanças significativas ocorridas no cenário mundial desde a década de 80, seja nas questões sociais, política, econômica, nas telecomunicações, essas mudanças atingiram o mercado de trabalho.
Na década de 90 ouvimos falar com freqüência do “workaholic”, ou o viciado em trabalho. Pessoas com compulsão pelo trabalho, sempre existiram, entretanto, houve nesse período um incremento estimulado pelo aumento da competitividade, pelo desejo da manutenção do emprego, pela necessidade de aumentar os ganhos financeiros, para demonstrar emprenho e comprometimento, e escamotear problemas e dificuldades pessoais entre outros. Afinal de contas, uma pessoa com esse perfil dificilmente consegue desenvolver algum outro interesse que não seja o trabalho e essa atitude acaba por colocar em risco relações familiares e sociais (pais, esposa, namorada, filhos, amigos).
Com o passar do tempo, esse comportamento começou a ser mal visto inclusive pelos próprios empregadores, pois o rendimento dessas pessoas tende a diminuir. No início, pode-se obter um resultado excelente, mas não é duradouro trazendo, em médio prazo, mais prejuízo do que ganhos á essas pessoas e aos seus pares. Dentre os malefícios, podemos citar, o stress, mau humor, pressão alta e até depressão, redução dos seus vínculos sociais, falta de interesse por qualquer outro assunto que não seja trabalho, redução de atividades físicas, conseqüentemente, se afastando e sendo excluído de outros contatos que não sejam os profissionais, reduzindo sensivelmente sua qualidade de vida.
Em função disso, no final da década de 90, iniciou-se um movimento global pela busca da qualidade de vida, envolvendo não apenas as questões relacionadas à saúde e segurança no trabalho, mas também à motivação, satisfação, maior participação do trabalhador nos processos de gestão da empresa, visando humanizar mais o ambiente profissional Atualmente, e principalmente em empresas com uma visão mais abrangente do significado das pessoas para o resultado da organização, os trabalhadores são vistos como sujeitos, estando sua realização calcada no desenvolvimento e aprofundamento de suas potencialidades.
Entretanto, mais do que deixar a cargo da empresa o gerenciamento das condições e melhorias no trabalho, a pessoa, precisa não apenas embarcar em mais uma tendência, mas acima de tudo começar a se dar conta sobre quais são os elementos e fatores que possam, de fato, propiciar melhor qualidade de vida. É preciso, antes de tudo, tomar consciência do que significa qualidade de vida para cada um, pois podemos encontrar definições na OMS – Organização Mundial da Saúde, no (PIACT) Programa Internacional para o Melhoramento das Condições e dos Ambientes de Trabalho, na (OIT)- Organização Internacional do Trabalho, mas o que representa melhor qualidade de vida para você?
Algumas empresas fazem compras de supermercado para seus colaboradores, transportam seus filhos para a escola, disponibilizam academias de ginástica no local de trabalho, permitindo, ou melhor, facilitando com que eles permaneçam mais tempo no trabalho e alegam estarem melhorando a qualidade de vida de seus funcionários. Será mesmo?
Somente um trabalho de autoconhecimento pode trazer a consciência o que cada pessoa entende sobre o que é Melhor Qualidade de Vida. Na minha opinião é ter mais tempo livre fora do trabalho para fazer o que se deseja. Num artigo da Harvard Business Review, tratando sobre equilíbrio entre trabalho e vida pessoal há uma proposta bastante interessante em que os autores propõem que os gerentes não considerem mais vida a pessoal como concorrente da vida profissional, mas que sejam complementares. Um novo modelo de gestão possibilitaria melhor aproveitamento das potencialidades dos seus colaboradores, trazendo para dentro da empresa competências que ele possua e pelo que se interessa fora do trabalho.
Segundo os autores, há algumas condições necessárias para que o líder consiga obter o máximo dos seus colaboradores, criando um círculo virtuoso, pois eles se sentirão mais comprometidos com a organização, com a confiança, com a lealdade e a energia que investem no trabalho redobrada, são elas:
- Informar claramente a seus empregados sobre as prioridades dos negócios e encorajá-los a serem igualmente claros sobre suas prioridades pessoais.
- Reconhecer e dar suporte a seus empregados não apenas tomando conhecimento como também celebrando seus papéis fora do escritório.
- Experimentar continuamente a forma como o trabalho é realizado buscando abordagens que favoreçam o desempenho da organização e permitam que os empregados persigam suas metas pessoais.
A gestão, de pessoas deu um salto qualitativo muito grande nos últimos anos, mas ainda, talvez por esbarrar em questões de ordem prática, como a legislação, e outras que eu precisaria me debruçar mais para descrever com mais propriedade, ainda não conseguiu perceber que as pessoas são diferentes, que possuem motivações diferentes, valores diferentes e que necessitam de tratamento diferenciado para sentirem-se valorizadas, reconhecidas, estimuladas, desafiadas e que, portanto entendem por qualidade de vida estímulos diferentes.
Desta maneira, para gerenciar a carreira sem perder de vista a chamada “qualidade de vida” são necessárias algumas medidas:
- Tomar consciência sobre quais são os fatores e condições que você entende como melhoria para sua vida, para isso um processo de autoconhecimento é bastante útil, sendo possível realizá-lo através do trabalho com um Orientador de Carreira ou um processo psicoterapêutico.
- Equilibrar, da melhor maneira possível, as várias esferas da sua vida ─ profissional, pessoal, social e familiar.
- Administrar seus compromissos e obrigações de maneira que consiga ter tempo livre fora do trabalho, que não seja para investir em atividades que estejam relacionadas ao trabalho (academia, caminhada, aulas de dança, artesanato, ler um livro, enfim encontrar tempo para fazer alguma atividade prazerosa)
- Dentro da sua empresa, buscar aplicar as competências em que mais se destaca naturalmente, tornando o seu trabalho mais interessante, satisfatório e produtivo.
Referência bibliográfica:
Friedman, S.D., Christtensen, P. e Degroot, J. – Trabalho e vida pessoal – O fim do jogo soma zero. Hraward Business Review – Rio de Janeiro, Campus, 2001
Adriana Gomes: Mestre em Psicologia – UNIMARCO, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga, (CRP 30.133), carreira de 18 anos nas áreas organizacional e clínica (Psicoterapia e Orientação de Carreira). Ex-vice-presidente do Grupo Catho, empresa onde atuou com Executive Search e Outplacement. Professora do curso de pós graduação da ESPM na Cadeira e Fator Humano, Professora do Instituto Pieron de Psicologia Aplicada, membro da ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, palestrante e Diretora do site www.vidaecarreira.com.br