O VERBO SER …. ESQUECIDO DO HUMANO

Fátima Motta

A intenção desse artigo é chegar mais próximo da verdade, questionando a máscara presente nas relações interpessoais, em especial, aquelas usadas tão freqüentemente pelos profissionais. Nesses 20 anos de trabalho junto a proprietários e presidentes de empresas, diretores, gerentes, professores e consultores dos mais diversos ramos de negócio, o que sempre me chamou a atenção, foi o grande esforço que fazemos para manter as aparências, usando a eterna máscara de sucesso presente nas conversas formais e informais.

Isso me leva a algumas questões.
Existe em cada um de nós, profissionais, a real consciência do que queremos ser? De onde e como queremos aplicar nossa energia e nosso tempo? Ou seja, fala-se tanto de objetivos para as empresas, para as áreas, para os projetos e pouco se fala de objetivos pessoais. Será que temos nosso real objetivo de vida claro? Sabemos aonde queremos chegar de fato?

Os resultados profissionais que atingimos satisfazem-nos verdadeiramente? Aquele negócio fechado, o cliente conquistado, o projeto realizado, a promoção tão esperada etc. são suficientes para que nos sintamos motivados, ou a satisfação é apenas aparente?
Existe um sentimento de plenitude ou de extremo vazio?
O que se observa é uma grande contradição presente no mundo das empresas, talvez ainda não percebida na sua profundidade.
Vivemos um momento em que os times esportivos são modelos utilizados para formas de trabalho em equipe – teamwork -, mas, ainda, o que mais se vê é o time do “eu sozinho”, da competição e da concorrência. Até que ponto as empresas têm condições básicas para trabalhar e constituir times? Até que ponto os profissionais sabem compartilhar o sucesso, cooperar e ter um objetivo comum, condições básicas para o trabalho em time?
Ao mesmo tempo em que existe uma necessidade cada dia maior de vencer a concorrência (seja empresarial, seja pessoal), é preciso que se trabalhe em parceria e em times. Quem vence é quem sabe mais, quem tem mais informação, mas, cada vez menos tempo se tem face ao volume de material disponível.
Outro aspecto a se considerar, não menos contraditório, é o interesse crescente pela espiritualidade, demonstrado na necessidade de maior paz de espírito, tranqüilidade, equilíbrio pessoal e na grande busca pelo auto conhecimento, que vem se espalhando pelo mundo inteiro, com a velocidade da globalização. A contradição está em que a mente racional é tão requisitada, que o espírito fica em segundo plano (ou talvez, nem plano tenha).
Que tal ficar sem pensar? Que tal dar trégua à nossa mente e simplesmente respirar, apenas ser? Parece quase uma Proposta Indecente, para quem tem que utilizar todos os segundos disponíveis para pensar, pensar, pensar, tomar decisões, sair na frente, ser criativo.
O interessante é perceber que, com o passar do tempo, vai-se perdendo a criatividade, vai-se perdendo a vontade e aí, com certeza, a culpa é do stress. Bem, é fácil resolver… só tirar algumas férias … um dia, quando for possível. Inconscientemente está a insegurança de poder ser muito bem substituído e, conscientemente as desculpas: agora não dá, apareceu um novo projeto, falta de colaboradores, problemas na empresa, solicitação da presidência. Ao fim de toda uma luta interna … uma semana de férias!!! (semana essa, talvez passada em meio a vários telefonemas para o escritório).
No meio dessa pequena semana de férias, olha-se para o espelho e, na televisão, outra contradição fica evidente: na TV, a importância da manutenção do vigor físico e, no espelho, o corpo aparece meio velho e sem vida, gordo e flácido, ou apresenta uma grande tendência para tudo isso. Aquela partida de tênis, aquela caminhada, aquele futebolzinho… são muito pesados, começa a faltar o ar. Deixa prá lá, um uísque ajuda a esquecer….
E aí, o corpo fica para uma próxima vez, como se não tivesse a menor importância, como se fosse possível fazer alguma coisa sem ele.
Percebe-se, então, que as férias terminaram e que a melhor coisa a fazer é voltar a trabalhar e não pensar. Estranho esse raciocínio, uma vez que o que mais se faz enquanto se trabalha é pensar. Aqui, então, mais uma das contradições: pensa-se, é verdade, e muito, mas pensa-se nos problemas da empresa, do trabalho, do projeto e se coloca toda a energia vital a serviço de outros objetivos, talvez utilizando um raciocínio muito comum: é assim que sei ganhar a vida e fazer dinheiro.
ONDE COMEÇA TODO ESSE PROBLEMA?

O problema começa muito cedo, no momento da escolha profissional. Bom, com 17 ou 18 anos, pouco ou nada se sabe da vida e é nessa idade que se resolve ser médico, engenheiro, advogado, administrador, psicólogo, veterinário, etc. E é nesse momento em que decidimos um dos maiores motivos para nossa felicidade ou infelicidade.
 Voltemos, então, ao passado: com base em que fizemos nossa opção profissional? Sugestão dos pais, “dava dinheiro”, era a tendência do mercado, era a necessidade do momento, do local, era mais fácil entrar na faculdade e daí por diante. Talvez poucos de nós possamos dizer que fizemos a opção da formação profissional porque realmente gostávamos e nos identificávamos com a escolha. Então, temos médicos que gostariam de ser cantores de ópera, presidentes de empresa que gostariam de ser juízes, gerentes de informática que gostariam de ser veterinários e advogados que gostariam de ser músicos.
Nesse momento, cada um de nós poderia se questionar sobre os próprios sonhos. Onde foram parar?
Tenho certeza de que a maiora das pessoas que consegue realização profisional são as quem amam o que fazem e que continuam sonhando e lutando por seus objetivos.
ONDE ESTÃO NOSSOS SONHOS?

Um homem sem sonho é um homem sem futuro. O sonho é nosso condutor, é nossa mola mestra. Os sonhos materializados se tornam objetivos e ninguém consegue ter qualidade de vida sem objetivo. E o mais interessante é que é da qualidade do nosso objetivo que depende a qualidade da nossa vida.
Se cada um pensar no próprio objetivo, talvez consiga identificar com clareza um objetivo profissional. A pergunta é: será que o objetivo profissional é suficiente para que um humano consiga SER? Provavelmente, não.
Se concentrarmos toda nossa energia no objetivo profissional, a sensação de vazio continuará muito presente. Outros objetivos, como o familiar, o social e o pessoal? Cada um deles cumpre um papel extremamente importante para a plenitude do ser humano e para o alcance do equilíbrio que tanto busca.
Quando se comenta sobre esses 4 níveis de objetivos, profissional, familiar, social e pessoal, este último, o pessoal, às vezes é o mais difícil de ser identificado, uma vez que só pode ser encontrado se pesquisarmos no nosso íntimo. Trata-se de algo só para nós, aquilo que explica o porque da nossa existência nesse mundo.
Fica, então, uma importante pergunta, para cada um de nós pensarmos na resposta:
. Quais os meus objetivos de vida?
. O que quero deixar como marca pessoal?
AUTO CONHECIMENTO COMO PRIMEIRO PASSO

Nesse ponto, o primeiro grande e importante passo é o auto conhecimento. Quanto mais nos conhecemos, mais estamos acordados e mais estamos prontos para assumir a vida de fato, por nós mesmos e não por aquilo que os outros acham que seja o mais certo. É quando estamos conscientes do nosso potencial e da nossa força e decidimos colocá-los na direção dos nossos desejos, à disposição da humanidade. Percebemos as malandragens do nosso pequeno ego e observamos que somos muito mais do que ele gostaria e saímos da mediocridade diária, passando para um nível de existência mais sadio, mais prazeroso, pelo simples fato de ser mais natural.
O trabalho é intenso para que façamos essa auto descoberta, até porque não damos valor a isso. Procuramos tanto os aspectos externos em tudo que fazemos, a aprovação dos outros, as informações nos livros, nas revistas, nos jornais, na televisão, que esquecemos freqüentemente de pesquisar nosso imenso banco de dados interno, que contém todas as respostas das quais precisamos.
O auto conhecimento requer um profundo esforço na contemplação daquilo que vivemos e sentimos, não para encontrarmos as falhas no outro, mas para entendermos como funcionamos, quais nossas reações, o que mais nos incomoda, como lidamos com cada um dos aspectos da nossa vida, o que somos e o que queremos ser.
Vale, nesse ponto, um pequeno exercício diário de escrever em um caderno, todos os dias, os fatos principais e os sentimentos gerados. Será difícil, como quando se começa a cavar um buraco na areia, ou quando se começa a subir uma imensa montanha, mas, seguramente, com o hábito, a dificuldade ficará cada vez menor e trará a beleza das paisagens de cima da montanha, ou a alegria da criança que encontra a água do mar depois de muito cavar na areia.
É preciso, também, cultivar algo de muito precioso e na nossa civilização um pouco esquecido: o silêncio – é impossível escutar a voz interior em meio à agitação. Deixar a mente tranqüila e desfrutar do silêncio é tão importante como dormir e comer. Nossa saúde mental e psíquica precisa de um pouco de silêncio, para que possamos escutar nossa própria voz interna.
VONTADE, O SEGUNDO PASSO

Do mesmo jeito que precisamos de muito esforço para conseguir alguma coisa importante, vontade e persistência são fundamentais para quem quer sair da escuridão e caminhar um pouco mais para a luz, um pouco mais para a verdade, para a real beleza de cada uma das coisas do Universo.
Talvez no escritório, com o som dos telefones tocando, os clientes entrando e saindo, as secretárias falando, não nos damos conta da turbulência mental que vivemos e da falta que sentimos de um pouco de paz, de um pouco de silêncio. Vale a pena o exercício diário de encontrar-se consigo mesmo e fazer algumas perguntas, como por exemplo:
Do que preciso para ter sucesso e me sentir com sucesso?
O que quero para a minha vida?
Por que fico tão irritado com algumas coisas?
Por que me prendo a coisas tão banais?
Quais as emoções que estou sentindo? Por que?
ECOLOGIA MENTAL

Outro hábito extremamente saudável é a preocupação com o lixo mental. Existem cada vez mais programas para a limpeza das fábricas e dos escritórios, programas de qualidade total, preocupação com a poluição do meio ambiente, o que é absolutamente importante. Mas, aproveitando essa onda, a despoluição mental, o cuidado com o lixo mental deveria ser a preocupação de todo ser humano. Podemos escolher nossos pensamentos, adotando o que é belo e harmonioso, simples, saudável e puro, eliminando tudo o que é vulgar, banal e grosseiro.
Para isso, cada momento deve ser percebido, todo pensamento deve se tornar consciente, uma vez que o pensamento determina o sentimento, ou seja, um pensamento harmonioso e equilibrado, traz um sentimento de paz e calma. Um pensamento agressivo ou depressivo gera sentimentos de raiva ou de depressão. E os sentimentos, por sua vez, podem determinar a ação.
Em resumo, tirar o lixo mental e concentrar-se nos objetivos que se quer alcançar é um meio eficaz para canalizar nossa energia na direção certa. Para isso, a capacidade de atenção e concentração precisam estar bem desenvolvidas, de forma a organizar as próprias idéias em torno de uma idéia central, um ideal mais alto.
FLEXIBILIDADE MENTAL, UM ÓTIMO MOMENTO DE PASSEIO

Um dos maiores problemas que permeiam nossos relacionamentos interpessoais e que nos torna por vezes amargos e sem vida é a rigidez mental. Temos a tendência de ficarmos presos a um único ponto de vista, defendendo-o como se fosse a única verdade, como se fosse absoluto.
Discussões exaustivas acontecem , quando poderiam ser resolvidas de maneira simples, desde que as pessoas se dispusessem a ser mais flexíveis e não se ativessem a suas posições como forma de manter o poder. Colocar-se no lugar do outro e observar a realidade da forma que o outro enxerga é um exercício positivo e que ajuda a chegarmos à síntese de um problema, sem a preocupação de defender posições.
Para flexibilizar a forma de ver as coisas, um exercício que pode ajudar muito é procurar sempre outros lados de uma mesma questão, brincar com alguns assuntos talvez menos importantes e encontrar novas formas de encará-los, olhar sob outro ponto de vista.
Olhar da forma contrária do que normalmente se olha, buscar alternativas e tentar chegar a uma síntese dos vários pontos de vista. Esse é um passeio mental interessante que ajuda a flexibilizar o pensamento, desenvolve a criatividade e nos leva a questionar o absoluto que escraviza.
E é nesse momento que começamos a nos capacitar a trabalhar em time.
CUIDADO COM O QUE SAI DA BOCA

Especial atenção, quando se fala em time, tem que ser dada à comunicação.
Temos uma facilidade muito grande em verbalizar tudo que queremos, mas nem sempre falamos o que se deve, para a pessoa certa, na hora certa, porque cuidamos muito pouco do que sai da boca e, por conta disso, machucamos, ferimos, criamos inimigos, perdemos amigos, enfim, destruímos times.
Ou seja, a palavra tem um peso muito importante, talvez pouco considerado.
Convém um cuidado a mais, para que não percamos nosso direcionamento. Antes de falar, pensar e se questionar em relação ao peso que cada palavra tem para quem ouve. Colocar-se no lugar de quem está ouvindo e tentar sentir o impacto das palavras. Falar apenas o necessário, de forma objetiva e clara, não querendo que o outro que escuta tenha bola de cristal para decifrar o que está por trás das palavras.
PARA TUDO ISSO É NECESSÁRIO ENERGIA

A energia é a força vital que nos faz agir, o que nos entusiasma, é o que nos faz caminhar em direção aos nossos impulsos e desejos. Para que ela se manifeste, precisamos de um corpo saudável, desperto, forte e flexível.
Aqui é que paramos para lembrar dos hambúrgueres, das carnes gordurosas, dos cigarros, das bebidas, enfim, tudo aquilo que estamos cansados de saber que nos debilita, que nos deixa sem energia vital, tudo aquilo que desgasta nosso organismo. Somos tão responsáveis pelas máquinas da fábrica ou do escritório e tão irresponsáveis com a nossa máquina, com o veículo que nos possibilita chegar aos nossos resultados. É impressionante quanto mal podemos fazer a nós mesmos, utilizando o prazer como desculpa, as reuniões sociais como impeditivas de eliminar o álcool, ou até mesmo o benefício do álcool e das drogas para combater o stress.
Nosso corpo precisa de sono, alimentação adequada e movimento. O sono antes da meia noite é o que repousa os nervos fatigados de um dia de tensão. Aprender a relaxar todos os músculos antes de dormir pode garantir um sono repousante. Interessante, se formos a uma fábrica, os gerentes, diretores, chefes, operários, todos saberão dizer o que uma máquina precisa para funcionar direito e talvez muitos de nós não saibamos como relaxar, como comer, quando dormir, que movimentos fazer, aspectos fundamentais para a nossa máquina.
Deveríamos comer com a intenção de manter o corpo forte e saudável e não por prazer. O alimento tem como objetivo fazer com que nos aproximemos dos nossos objetivos, é o que nos dá força para alcançarmos aquilo que queremos. É o combustível que se transforma em energia, acompanhado de uma boa respiração. E aí vem uma outra pergunta: será que sabemos respirar? Primeiro, precisa ver se a poluição deixa, depois as roupas justas e gravatas apertadas, fazem com que o ar chegue, quando muito, até o pulmão e não desça até o diafragma. Coitada da nossa máquina, mais uma vez prejudicada pela falta de oxigênio. Reaprender a respirar … parece brincadeira, mas é o que muitos de nós precisamos, deixar o ar chegar a todas as partes do corpo.
Alongar e exercitar os músculos garante flexibilidade, rapidez e força. E, como corpo e mente se interrelacionam continuamente, todo benefício na oxigenação e flexibilidade muscular tem seu contraponto positivo no nível mental.
Vale a pena uma pequena parada para uma breve pergunta:
Como você está tratando sua máquina?
AGIR, O VERBO QUE TRANSFORMA O SONHO EM REALIDADE

Temo que muitas das coisas que foram escritas aqui já eram conhecidas, mas possivelmente estavam guardadas, encaixotadas no porão da mente, uma vez que podem incomodar muito e dão trabalho para colocar em prática.
Bem, a opção agora é de continuar deixando-as no porão ou querer de fato fazer diferença no Universo. A vida está aí, para ser vivida e apreciada por todos. A vida é um grande parque de diversões, onde o objetivo é individual e intransferível, onde a centelha viva de luz espera por aparecer e brilhar de forma única.
A ação é de cada um, depende de vontade, de humildade e de persistência, para simplesmente SER.
Aí, sim, podemos falar em SUCESSO.
Fátima Motta
Sócia-diretora da F&M Consultores
Coordenadora e professora da cadeira
de Fator Humano como Diferencial Competitivo
nos cursos de Pós e MBA da ESPM
...www.fmconsultores.com

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