Por Karen Rodrigues
com a colaboração de Adriana Gomes
29/11/2022 ( ADM PRO edição nº406)
Conheça as áreas que serão tendências de recrutamento no próximo ano, além dos cargos que estão em evidência e as competências necessárias para crescer na profissão
Depois de pouco mais de dois anos de incertezas e planos adiados por conta da pandemia, o mercado, aos poucos, dá sinais de recuperação e muitos projetos que estavam inertes vêm sendo desengavetados. O novo momento elevou o otimismo dos executivos: 94% deles estão mais confiantes com o próximo ano e, deste total, 47% planejam abrir novas vagas de emprego. Isso é o que aponta o Guia Salarial 2023, desenvolvido pela empresa de recrutamento Robert Half.
Segundo Marcela Esteves, diretora de negócios da Robert Half, mesmo em meio a um contexto político e econômico ainda instável, há uma ânsia dos líderes de colocar em prática o que estava planejado. “Eles estão otimistas e isso gera aceleração em termos de contratação. Essa é uma das principais forças que vemos no mercado e que tem feito com que essa roda comece a girar”, diz a diretora.
Além das tendências otimistas de contratação, o Guia Salarial, que este ano chega à sua 15ª edição, também apresenta outro cenário muito favorável. Dos oito setores em destaque no levantamento, cinco pertencem à Administração: finanças, recursos humanos, vendas, marketing e logística. Além de serem grandes redutos dos administradores, essas áreas também abrigam os tecnólogos em gestão, profissionais com formação específica e atuação exclusiva.
Desafios
Apesar das boas projeções para 2023, é importante saber que há um item crucial na hora de alcançar uma boa oportunidade no mercado de trabalho: a capacitação. Isso porque, devido à baixa taxa de desemprego entre os profissionais qualificados, 68% dos líderes acreditam que será mais difícil contratar colaboradores aptos às funções no ano que vem. Para se ter uma ideia desse panorama, atualmente o País tem por volta de 9% de desempregados, porém, essa margem cai para 5% entre os bons talentos, o que é considerado praticamente pleno emprego, ou seja, o candidato que busca por uma colocação a encontra em um curto prazo.
“Hoje, os bons profissionais são os protagonistas do mercado. Como há muitas vagas, eles são abordados por empresas concorrentes, participam de vários processos e avaliam o modelo de trabalho, o quanto vão ganhar e a oportunidade que melhor se adequa em seu momento de vida. Além disso, esses profissionais estão de olho também na questão do clima e da cultura organizacional das empresas e escolhem onde vão trabalhar também nesse sentido”, diz Carolina Cabral, diretora-associada da Robert Half.
Flexibilizar para atrair e reter os melhores talentos
Com o mercado aquecido, atrair e reter talentos têm sido a preocupação de 76% dos executivos, segundo o Guia Salarial. A falta de flexibilidade para horários e local de trabalho está entre os motivos de saídas voluntárias: para 43% dos candidatos, o modelo de trabalho é o mais importante na busca por uma vaga, seguido por salário (32%), benefícios (12%) e reputação corporativa (14%).
“Um dos números que o Guia traz é que 77% dos profissionais optam pelo trabalho híbrido. Antigamente, a questão do salário era o que mais pegava para o candidato e o fazia se movimentar. Hoje em dia, isso se deve a uma pluralidade de fatores, entre eles o modelo de trabalho. O profissional quer ter autonomia para escolher se vai dois ou três dias à empresa. Com isso, a gente acaba não fechando uma vaga com um candidato perfeito, porque ele não está disposto a fazer essa movimentação e há uma inércia das empresas em entender isso”, alega Carolina.
Por mais que muitas organizações ainda relutem aos novos formatos de trabalho, a tendência é que o modelo híbrido se consolide nas áreas em que cabe a flexibilidade. “Havia um paradigma de que se a pessoa trabalhasse em casa, ela não trabalharia. E, nesse período, houve um aumento de produtividade muito grande com as pessoas em home office, que, por sua vez, perceberam que podem desempenhar bem suas atividades de qualquer lugar. A grande dificuldade agora vai ser para as empresas que não querem o híbrido. Se o trabalho for flexível, a chance de contratar um bom profissional é maior. Esse modelo veio para ficar, não é algo temporário”, afirma Adriana Gomes, coordenadora nacional da área de Carreira e Mercado da ESPM.
Conheça as perspectivas de trabalho, as áreas mais demandadas e os salários para cada um dos setores de destaque da Administração, de acordo com o Guia Salarial 2023, da Robert Half
Finanças
O setor de finanças tem valorizado, e muito, os profissionais mais estratégicos para a expansão dos negócios. As áreas mais demandadas, segundo o estudo, são as de planejamento financeiro e de modelagem financeira. “O mercado ficou muito favorável a essas questões de Mergers & Acquisitions – M&A (em português, Fusões e Aquisições) e o profissional, tanto de modelagem quanto de planejamento financeiro, voltou a ganhar evidência. Eles são extremamente demandados por serem mais estratégicos”, explica Marcela.
Embora considerem o trabalho remoto positivo, 37% dos CFOs (diretores financeiros) pretendem voltar ao escritório 100% presencial. Eles alegam que reuniões importantes devem ser feitas pessoalmente e também acham difícil monitorar sinais de insatisfação ou níveis de estresse no trabalho remoto. A diretora de negócios da Robert Half, no entanto, faz um alerta. “Uma vez que estamos quase em pleno emprego, são os melhores profissionais que irão escolher ou não voltar para o formato presencial. As empresas que optarem pelo retorno ao escritório podem perder seus talentos, pois esses profissionais continuarão sendo abordados por outras organizações, uma vez que temos uma alta demanda”, contextualiza.
No próximo ano, a prioridade para 45% dos executivos financeiros é investir em novas tecnologias, processos e sistemas, pois isso aumenta a produtividade e a eficiência e, ainda, atrai profissionais mais estratégicos. “O investimento em tecnologia cresce aos olhos dos candidatos qualificados. Por isso, esse é um caminho para conseguir os melhores talentos”, considera Marcela.
Segmentos que lideram as contratações: Infraestrutura (logística/energia/concessões), serviços (educação/telecom), farmacêutico/healthcare, agronegócio, bens de consumo, tecnologia
Áreas mais demandadas: Planejamento financeiro, modelagem financeira
Habilidades técnicas: Automatização de processos, Excel, Power BI (tecnologia que ajuda nas análises e criação de dashboards analíticos), modelagem financeira, valuation, ERP de mercado e inglês
Habilidades comportamentais: Flexibilidade, adaptabilidade, dinamismo, resiliência, comunicação e relacionamento interpessoal
Algumas perspectivas de remuneração para 2023:
Cargo | 25º percentil* | 50º percentil** | 75º percentil*** |
Diretor financeiro – CFO (P/M) | R$ 32.500 | R$ 40.300 | R$ 45.800 |
Diretor financeiro – CFO (G) | R$ 58.000 | R$ 75.450 | R$ 93.150 |
Gerente de planejamento (P/M) | R$ 15.000 | R$ 18.500 | R$ 22.800 |
Gerente de planejamento (G) | R$ 21.000 | R$ 26.500 | R$ 35.000 |
Coordenador de planejamento (P/M) | R$ 12.000 | R$ 14.000 | R$ 16.600 |
Coordenador de planejamento (G) | R$ 15.000 | R$ 17.000 | R$ 21.000 |
Gerente de modelagem financeira/m&a (P/M) | R$ 19.000 | R$ 23.000 | R$ 28.300 |
Gerente de modelagem financeira/m&a (G) | R$ 26.900 | R$ 33.500 | R$ 41.300 |
Coordenador de modelagem financeira/m&a (P/M) | R$ 14.000 | R$ 16.200 | R$ 19.900 |
Coordenador de modelagem financeira/m&a (G) | R$ 17.000 | R$ 19.000 | R$ 24.000 |
Vendas e Marketing
Cada vez mais estratégicas, as empresas de marketing apostam em dados como fonte de informações, no propósito de identificar tendências, minimizar riscos, buscar oportunidades e entender o posicionamento de seus produtos e serviços. Por isso, os profissionais mais valorizados do setor são os data-driven, com conhecimento em software e pensamento criativo. “Eles coletam as informações, fazem a análise e a rastreabilidade dos dados. Não existe mais clique inocente na internet, então eles trabalham com um grande volume de dados, que precisam ser convertidos em resultados de vendas”, comenta Adriana.
Porém, bem mais que saber obter esses dados, essas empresas buscam por pessoas que saibam interpretá-los. Com isso, as áreas de Inteligência de Mercado e de Inteligência de Negócios (BI) estão em alta, devido à capacidade destes profissionais trabalharem com as informações do próprio negócio, bem como as do setor em que atuam. “Hoje, o profissional de marketing é o querido do mercado. É aquele que sabe não só obter, mas também trabalhar dados de um sistema e transformá-los em material para o time de vendas. Tudo que está relacionado a trabalhar dados está em alta”, comenta Carolina.
Já em vendas, área considerada o pulmão da empresa, o time comercial precisa estar atualizado quanto às exigências dos clientes. “O perfil do profissional de vendas mudou. Hoje, espera-se que ele seja mais analítico para entender o cenário, analisar as oportunidades, agir estrategicamente e, assim, ter um resultado diferenciado”, comenta Adriana.
Segmentos que lideram as contratações: Bens de consumo, varejo, tecnologia, startups, healthcare, agronegócio, logística
Posições mais demandadas: Executivo de contas, coordenador de marketing digital, gerente de e-commerce, gerente de marketing digital, analista de marketing digital, CRM-CX, Inside Sales, analista de inteligência de mercado, analista de inteligência de negócios
Habilidades técnicas: Excel, Power BI, conhecimento de mercado, inglês, espanhol, marketing digital, visão de negócios, gestão financeira/rentabilidade, controle de indicadores e funil de vendas
Habilidades comportamentais: Boa comunicação, equilíbrio emocional, flexibilidade, criatividade/inovação, team work e resiliência
Algumas perspectivas de remuneração para 2023:
Cargo | 25º percentil* | 50º percentil** | 75º percentil*** |
Head of Growth (P/M) | R$ 13.850 | R$ 19.950 | R$ 24.500 |
Head of Growth (G) | R$ 21.350 | R$ 31.050 | R$ 38.150 |
Gerente de Marketing (P/M) | R$ 13.650 | R$ 20.000 | R$ 24.550 |
Gerente de Marketing (G) | R$ 17.600 | R$ 25.500 | R$ 31.300 |
Analista de inteligência de mercado(P/M) | R$ 6.050 | R$ 8.850 | R$ 10.850 |
Analista de inteligência de mercado(G) | R$ 7.150 | R$ 10.500 | R$ 12.850 |
Gerente de marketing digital (P/M) | R$ 11.500 | R$ 16.650 | R$ 20.400 |
Gerente de marketing digital (G) | R$ 15.250 | R$ 22.200 | R$ 27.300 |
Gerente de e-commerce (P/M) | R$ 10.750 | R$ 15.500 | R$ 19.050 |
Gerente de e-commerce (G) | R$ 15.300 | R$ 22.200 | R$ 27.300 |
Analista de CRO/Martech (P/M) | R$ 5.800 | R$ 8.500 | R$ 10.400 |
Analista de CRO/Martech (G) | R$ 8.400 | R$ 12.200 | R$ 14.950 |
Recursos Humanos
Ponte entre os colaboradores e a liderança, a área de RH tem um papel fundamental nos principais desafios previstos pelos executivos para o próximo ano. Segundo Marcela, o setor nunca foi tão valorizado como agora. “Com o trabalho híbrido versus remoto versus presencial, as questões de saúde física e mental dos profissionais e, agora, a guerra de talentos no mercado, o RH também se posiciona com a questão de atração e retenção”, comenta a diretora.
Com um papel cada vez mais estratégico, os profissionais mais demandados do setor são aqueles com foco em remuneração e benefícios, desenvolvimento organizacional, recrutamento e seleção. “A área de remuneração e benefícios, por exemplo, é desafiadora em qualquer momento, por ser um fator que faz a diferença nos processos seletivos. Já na de recrutamento e seleção, os colaboradores vivem o desafio de encontrar bons talentos. E em desenvolvimento organizacional, o pessoal precisa adequar a realidade da empresa com a oferta do mercado, além de capacitar os líderes para a gestão on-line”, explica Adriana, da ESPM.
Outra demanda que vem crescendo nas organizações e que justifica a maior valorização do RH são as universidades corporativas, estratégia adotada por algumas empresas para alcançar os melhores profissionais. “Esses centros de capacitação interna habilitam os colaboradores tanto nas questões técnicas quanto nas comportamentais, sendo uma ferramenta para desenvolver, atrair e reter talentos”, explica Marcela.
Já com relação às qualificações necessárias para a área, Adriana enfatiza que o profissional de RH precisa aprimorar suas competências socioemocionais. “Não basta apenas ser um bom profissional. É preciso ter boa comunicação, proatividade, saber negociar e trabalhar bem em equipe. São essas soft skills que fazem a diferença e tornam os candidatos mais desejados”, revela.
Segmentos que lideram as contratações: Startups, infraestrutura (logística/energia/concessões), serviços (educação/telecom), tecnologia, bens de consumo
Posições mais demandadas: Remuneração e benefícios (analistas sênior/especialistas/coordenadores), desenvolvimento humano e organizacional (analistas sênior/especialistas/coordenadores), gerente de RH, gerente de DHO, diretor de RH, Tech Recruiter
Habilidades técnicas: Estratégias de remuneração, universidade corporativa, desenvolvimento de liderança, retenção/engajamento/cultura, inglês fluente, estratégias de R&S
Habilidades comportamentais: Comunicação, relacionamento interpessoal, foco em soluções, visão analítica, visão de negócios
Algumas perspectivas de remuneração para 2023:
Cargo | 25º percentil* | 50º percentil** | 75º percentil*** |
Gerente de Remuneração e Benefícios (P/M) | R$ 21.200 | R$ 25.000 | R$ 28.100 |
Gerente de Remuneração e Benefícios (G) | R$ 25.500 | R$ 30.000 | R$ 33.850 |
Coordenador de Remuneração e Benefícios (P/M) | R$ 12.750 | R$ 15.000 | R$ 16.850 |
Coordenador de Remuneração e Benefícios (G) | R$ 14.400 | R$ 17.000 | R$ 19.150 |
Diretor de Recursos Humanos (P/M) | R$ 29.800 | R$ 35.000 | R$ 39.400 |
Diretor de Recursos Humanos (G) | R$ 36.600 | R$ 43.000 | R$ 50.600 |
Coordenador de Atração e Seleção (P/M) | R$ 11.050 | R$ 13.000 | R$ 14.550 |
Coordenador de Atração e Seleção (G) | R$ 13.250 | R$ 15.000 | R$ 17.650 |
Gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional (P/M) | R$ 19.000 | R$ 22.000 | R$ 24.800 |
Gerente de Desenvolvimento Humano e Organizacional (G) | R$ 22.950 | R$ 27.000 | R$ 30.400 |
Business Partner – Gerente (P/M) | R$ 18.000 | R$ 22.000 | R$ 24.000 |
Business Partner – Gerente (G) | R$ 23.000 | R$ 27.000 | R$ 30.450 |
Logística
Logística e supply chain, mais uma vez, são áreas que se destacam no mercado e, como não podia ser diferente, o foco de 47% dos executivos do setor em 2023 será em inovação e investimentos em tecnologia.
Diante da valorização da logística 4.0, que moderniza a estratégia da organização, reduz falhas na distribuição e melhora a gestão de estoque, a área de compras também ganha destaque. Entre as principais metas das empresas para o ano que vem estão a redução de custos e o equilíbrio do orçamento. “A área comercial se firma como um departamento importante para o equilíbrio financeiro das empresas e conquista relevância”, diz Carolina.
Os profissionais mais desejados pelo mercado no setor são os gerentes de supply chain, devido ao seu perfil analítico, facilitador e com conhecimentos nos modelos de strategic sourcing (matriz estratégica de abastecimento). Para chegar a esse cargo, a coordenadora de carreira da ESPM sugere a ampliação do conhecimento em estatística, Power BI, ferramentas de gestão de processo, além das certificações da área.
“Com o aumento nas operações on-line, o setor entra com a roteirização e a definição de estratégias de entrega dos produtos, além do armazenamento. É uma área que também demanda muita análise de dados e informações de tecnologia, visando a otimização dos resultados”, explica Adriana.
Profissionais mais procurados: Gerente de supply chain
Habilidades técnicas: Inglês, espanhol, domínio de sistema de gestão integrada
Habilidades comportamentais: Perfil analítico e facilitador, equilíbrio emocional, comunicação, adaptabilidade/flexibilidade, senso de dono
Algumas perspectivas de remuneração para 2023:
Cargo | 25º percentil* | 50º percentil** | 75º percentil*** |
Gerente de supply chain (P/M) | R$ 18.950 | R$ 24.400 | R$ 27.000 |
Gerente de supply chain (G) | R$ 20.900 | R$ 27.000 | R$ 30.000 |
Coordenador de Logística (P/M) | R$ 12.050 | R$ 15.500 | R$ 19.400 |
Coordenador de Logística (G) | R$ 9.200 | R$ 12.000 | R$ 15.000 |
Analista de Logística (P/M) | R$ 4.250 | R$ 5.550 | R$ 6.900 |
Analista de Logística (G) | R$ 5.900 | R$ 7.700 | R$ 9.650 |
*Candidato 25º percentil: novo no cargo ou ainda está desenvolvendo habilidades para o trabalho. Demanda: baixa.
**Candidato 50º percentil: tem experiência necessária e conta com a maioria das habilidades relevantes para o trabalho. Demanda: moderada.
**Candidato 75º percentil: tem mais experiência do que a típica e conta com todas as habilidades relevantes para o trabalho, além de especializações e certificações. Demanda: alta
Divisão baseada em faturamento – P/M: até R$ 500 milhões; G: acima de R$ 500 milhões
Fonte: Guia Salarial 2023, da Robert Half
Link original da matéria na ADM PRO:
www.crasp.gov.br/admpro//site/materias-em-destaque/administracao-em-alta-