Trabalhar fora do país, aprender um novo idioma, conhecer novas culturas e pessoas é um sonho para muita gente.
Um sonho que muitas vezes parece distante e quase impossível de ser realizado.
Talvez porque você ainda não esteja 100% seguro de seu inglês, ou porque sua carreira já está estabelecida no Brasil, ou ainda simplesmente por você achar que será muito difícil e nunca parou para pensar como chegar lá.
O primeiro passo para realizar qualquer sonho é deixar de tratá-lo como sonho e passar a tratá-lo como objetivo, e morar fora do país não é diferente.
Achar que um belo dia seu telefone irá tocar com uma proposta com tudo resolvido e sem dor de cabeça é ilusão, é contar muito com a sorte.
Em 2012 deixei uma carreira relativamente estável no Brasil para trabalhar em São Francisco, Califórnia.
Trabalhei lá por dois anos e meio até que meu visto expirou. De volta ao Brasil e decidido a morar fora novamente, mudei o foco e passei a mirar em empresas na Europa.
Mudei para Amsterdam onde estou há 9 meses trabalhando para outra startup e prestes a começar 2016 assumindo um novo desafio em uma grande empresa multinacional.
Frequentemente me perguntam como vim parar aqui, então decidi escrever este artigo e compartilhar cinco coisas que aprendi e que podem ser úteis para outras pessoas com o mesmo objetivo, mas que talvez não saibam por onde começar.
1) Invista no inglês, porém não espere ter fluência
Quando falamos em aprender inglês para morar fora, a maioria das pessoas acha que é necessário falar de forma impecável antes de começar a procurar algo.
Primeiramente, fluência é algo extremamente relativo. Não espere um belo dia acordar sentindo que está falando fluentemente e pronto para se mudar.
Pelo contrário, quanto mais você aprende, mais você percebe que tem muito a aprender.
Nós falamos português desde que nascemos e ainda assim cometemos erros, imagine outro idioma que não é sua língua materna.
No final das contas o importante é você conseguir se comunicar. Comunicar-se não significa falar perfeitamente e sem sotaque, mas sim entender e ser entendido.
Pela minha experiência, quando se trata de outro idioma, nós tendemos a nos bloquear muito mais do que as outras pessoas nos bloqueiam.
Mesmo quando meu inglês ainda era bastante básico, nunca sofri nenhum tipo de preconceito ou bullying por conta disso; pelo contrário, as pessoas em geral estão sempre abertas e dispostas a lhe entender.
Portanto, não deixe a falta de fluência te bloquear, quanto mais você se expor ao idioma melhor.
Foque em conversação e a gramática virá naturalmente. Além disso, para escrever você sempre terá o Google para ajudá-lo, em uma conversa não.
Simule uma entrevista de emprego com seu professor ou tente explicar para ele um pouco da sua rotina de trabalho ou um projeto no qual você trabalhou recentemente, como se ele fosse um colega de empresa, o que lhe ajudará a simular situações do dia a dia na empresa e a aprender mais vocabulário técnico da sua área.
2) Prepare seu currículo, LinkedIn e cover letter
Naturalmente se você está procurando uma oportunidade fora, certamente precisará criar uma versão do seu currículo e perfil do LinkedIn em inglês.
Neste link você encontra as instruções de como criar o perfil em outro idioma sem perder o original.
Além disso, embora não seja muito usada no Brasil, a cover letter também é extremamente importante para se candidatar a vagas em outros países.
Esta nada mais é do que um breve texto de três ou quatro parágrafos onde você expressa para empresa o que te motivou a se candidatar à aquela vaga e, principalmente, porque você é o candidato ideal.
Algumas dicas importantes para criar uma boa cover letter:
- Personalize sua cover letter para cada vaga, dá trabalho mas é muito mais efetivo.
- Não repita na cover letter informações que você já tem no seu currículo. Seu currículo mostra o que você sabe, a cover letter deve demonstrar quem você é, o que o motiva profissionalmente.
- Cuidado com a ortografia e a gramática, peça para algum amigo ou professor revisar antes.
3) Comece a busca
Existem vários sites onde você pode buscar por vagas fora do Brasil.
Porém para mim o mais eficiente foi o LinkedIn, pois ele automaticamente acha vagas baseado nas informações de seu perfil e praticamente toda empresa posta vagas lá.
Ao acessar a área de empregos, filtre os países nos quais você tem interesse.
Quando comecei a buscar por vagas na Europa por exemplo, selecionei algumas cidades onde costumam falar inglês.
Após fazer a busca inicial, outra dica é você filtrar as vagas usando palavras-chave como “portuguese” e “brazil”.
Isto vai filtrar vagas que provavelmente exigem que a pessoa fale português ou que conheça bastante sobre o mercado brasileiro o que pode contar muitos pontos a seu favor, além de provavelmente não exigirem um inglês 100% perfeito.
Você pode ainda clicar em “Salvar Pesquisa”, no canto superior direito, para que o LinkedIn cheque automaticamente por vagas com estas características e o avise por e-mail.
Outro ponto importante enquanto estiver buscando por vagas, é checar se as empresas estão dispostas a patrocinar o visto de trabalho para você, o que é exigido pela maioria dos países.
Em geral se a empresa não está disposta a pedir o visto para você, ela colocará como requisito “Eligible to work in the EU” ou “Eligible to work in the US”. Se a descrição não diz nada a respeito, vale a tentativa!
Se você possui cidadania europeia você não precisa de visto para trabalhar em qualquer lugar da Europa.
Destaque isso na cover letter pois pode ser um ponto positivo. Já se o seu foco é os Estados Unidos, vale a pena correr e aplicar para as vagas no primeiro trimestre do ano, pois o processo de visto de trabalho H1B começa sempre no dia 1 de Abril.
Após esta data a única forma de trabalhar legalmente é através do visto J1, porém este tem algumas limitações como o tempo máximo de 18 meses e a impossibilidade da troca de emprego.
4) Dê um passo para trás para dar dois para frente
Um bom profissional é formado pela junção de conhecimentos técnicos e de comunicação, sendo a comunicação muitas vezes mais importante do que o próprio conhecimento técnico.
Ao trabalhar para uma empresa no exterior, você perceberá que vender uma ideia, defender seu ponto de vista ou discutir estratégias se tornará muito mais difícil, o que naturalmente reduzirá sua performance no início até você ficar mais confortável com o idioma.
Isso significa que para começar sua carreira internacional, você terá que dar um passo para trás e se candidatar a vagas que talvez pareça um pouco júnior para você.
Isso lhe dará mais tranquilidade para resolver a parte técnica e permitirá que você se concentre mais em melhorar o idioma.
Além disso, muitas empresas gostam da ideia de ter alguém tecnicamente mais sênior em uma vaga mais júnior e estão dispostas a dar um desconto no idioma para isso.
Na prática isso significa para a empresa que ela terá um funcionário tecnicamente melhor pelo preço de alguém mais júnior o que aumenta suas chances de conseguir um primeiro emprego fora.
5) Fique atento à oportunidades
O mais importante de tudo é ficar atento às oportunidades que aparecem ao seu redor.
Em 2011, quando ainda estava morando no Brasil, fui a um evento em São Francisco e aproveitei para tirar uma semana de férias por lá.
Aproveitei essa oportunidade para enviar e-mail para algumas startups da região através de fóruns e grupos do LinkedIn, oferecendo a eles um dia de consultoria grátis em troca de conhecer a empresa, ver como eles trabalham e praticar o inglês.
Fiquei surpreso com a abertura das empresas para receber pessoas de fora, especialmente as startups.
Na ocasião várias empresas se mostraram interessadas. Acabei visitando duas, fiz networking, conheci o método de trabalho deles e depois de um ano quando decidi realmente ir morar fora, consegui emprego em uma delas que já conhecia o meu trabalho em virtude da visita anterior.
Outro exemplo bacana é do meu ex-aluno Galileu Nogueira, que quando foi para os Estados Unidos fazer um curso enviou e-mails para algumas agências se oferecendo para tomar um café e conversar sobre marketing digital.
Resumo da ópera, terminou com um almoço no Google. Veja o post dele completo pois vale a pena como inspiração.
Conclusão
Morar fora é uma experiência única. Não apenas profissionalmente mas principalmente como experiência de vida.
A mistura de culturas e a inicial dificuldade com um novo idioma faz você crescer como pessoa, mostrando como lidar melhor com a frustração, a ter jogo de cintura, a se virar sozinho e, principalmente, a ser mais aberto ao novo.
É importante também se lembrar que conseguir um emprego é só o primeiro passo.
Pesquise bastante sobre o custo de vida na cidade que você deseja morar. Existem sites como o Numbeo que ajudam muito nessa tarefa.
Converse com pessoas que já moram lá através de grupos no Facebook para entender onde morar, como é o processo de alugar um apartamento e outros detalhes do dia a dia na sua futura cidade.
Se prepare financeiramente para caso as coisas não funcionem como o planejado e vá em frente.
Com planejamento, foco e força de vontade é possível para qualquer pessoa trabalhar no exterior, você só precisa deixar de sonhar e começar a executar.
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Este artigo foi publicado originalmente por Caio Tozzini.
Olá, quero parabenizar pelo artigo e excelente dicas. Escrevo para o blog acontecenovale.com e trazemos dicas para quem tem interesse em estudar e trabalhar em San Francisco e no Vale do Silício. Será um prazer contribuir com os seus leitores que tiverem interesse neste destino.
Um abraço,
Waldana.