A ambição de ser Líder

Adriana Gomes (*)

Convenhamos que o tema liderança está entre os mais populares e pesquisados na área de Administração. No Google, nossa referência instantânea de consulta, gera aproximadamente 2.980.000 páginas sobre o tema só em português. Parece haver falta de Líderes e, com tamanha carência, não faltam candidatos interessados em alcançar essa importante alcunha.

Terei que frustrar muitos candidatos à “vaga” pois concordo plenamente com Enrique Saraiva, Doutor pela Universidade de Paris I, quando afirma em seu artigo * Liderança, Isso existe? que: “O campo da administração de empresas é pródigo no uso leviano da palavra liderança. Qualquer atividade de orientação, chefia ou coordenação passou a ser chamada de tal. O termo liderança é impropriamente utilizado como sinônimo de gerência.”

Como professora em uma escola de negócios, sou também uma interessada pelo tema. Em uma de nossas matérias na ESPM _ Liderança e Gestão de Pessoas, nossos alunos chegam entusiasmados, pois entendem que em qualquer área, de qualquer segmento, gerir pessoas e lidar com pessoas é uma realidade inexorável. Assim, buscam nessa matéria a oportunidade para se capacitarem para as exigências do seu dia-a-dia.

Entretanto, em alguns encontros já nos deparamos com uma discrepância, praticamente um abismo, entre a teoria e a prática das organizações. Os alunos se agitam, pois o que se apresenta nas diversas teorias que tentam explicar o perfil e as competências dos líderes está muito longe da realidade vivida e percebida por eles em suas relações com os seus gestores nas organizações em que trabalham.  De modo geral o líder é confundido com o gestor direto ou com os gestores da empresa. Esse é um dos grandes equívocos que as pessoas podem cometer em relação à sua liderança.

Saraiva diz : “O bom senso indica que a denominação de líder não deve ser aplicada a qualquer gerente.” Eu diria mais, nem a qualquer, gerente, nem a qualquer diretor, superintendente, vice-presidente ou mesmo presidente. A mídia direcionada para o público jovem profissional e/ou executivo contribui para gerar essa altíssima expectativa em relação aos cargos executivos.

Ser um líder não vem junto com a promoção. Além de assumirem posições com maior projeção, responsabilidade, cobrança de performance, gerindo processos e pessoas, que não é tarefa fácil, pois sabemos que em gestão de projetos a parte mais complicada é a gestão das pessoas, ainda há uma cobrança velada, em alguns casos, explicita em outros de que esses gestores devam ser Líderes.

Digo aos meus alunos, até para baixar um pouco a ansiedade sobre o tema, que, desde que o mundo é mundo, há alguém que queira entender sobre o perfil das pessoas que angariam seguidores. Há livros e estudos sobre tudo o que fazem, pensam, escrevem, comem, vestem, assistem, lêem os líderes da história, na tentativa de se desenvolver “novos líderes” em escala industrial.

Mas isso, de certa forma é até uma ingenuidade. Cada momento histórico exige competências diferentes. Quem nos garante que líderes da história se fossem jogados nas arenas organizacionais de hoje teriam o mesmo desempenho que tiveram em sua época? Tem mais, depois que alguém descobre a resposta tudo fica mais fácil. Difícil é descobrir o melhor caminho quando as circunstâncias não são das mais favoráveis, as pressões enormes, a cobrança violenta e ainda obter algum resultado satisfatório.

Não há um perfil de líder que seja o ideal, ou melhor, e muitas vezes é a falta dessa objetividade, dessa tangibilidade que angustia as pessoas. Em alguns casos obter os resultados desejados, implica em tomar atitudes antipáticas e duras que certamente não angariarão seguidores, mas antipatias e outros sentimentos pouco agradáveis.

Considero importante conhecer a trajetória de pessoas bem sucedidas, mas nem sempre pessoas bem sucedidas são líderes. Precisaríamos nos deter também sobre o que é ser bem sucedido, mas isso poderá ser tema de outro artigo. Se conseguirmos suprimir mais essa cobrança de nossos colaboradores e melhorar o desempenho enquanto gestores, talvez até consigamos pessoas com melhores desempenhos técnicos e mais motivados nas áreas em que atuam. Nem todos são carismáticos, ou visionários e mesmo esses precisarão de pessoas que os ajudem a colocar em prática suas idéias.

O “perfil ideal de líder”, se é que existe um, deve servir apenas como inspiração para melhoria e desenvolvimento. A definição de ideal é algo relativo à idéia; que só existe no pensamento, que é objeto da nossa mais alta aspiração, alvo supremo de ambições ou afetos. Assim, pensemos que ser um ótimo gestor, trabalhando para o autodesenvolvimento e ajudando seus colaboradores a se desenvolverem pessoal e tecnicamente talvez seja um ótimo caminho para a melhoria das relações e resultados profissionais.

Bibliografia:

Saraiva, Enrique – Liderança, isso existe?  Revista ESPM, vol. 16 – ano 15 ed. 2 mar/abr 2009 pág 100 a 106

 (*) Adriana Gomes: Psicóloga, Mestre em Psicologia, carreira de 21 anos nas áreas organizacional e clínica. Professora da pós-graduação da ESPM, autora do livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade – LCTE, Diretora do site www.vidaecarreira.com.br

Deixe um comentário