Adriana Gomes (*)
“Imagine que não existam países,
Nada porque matar ou morrer,
Nenhuma religião.
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz…
Imagine nenhuma propriedade,
Eu me admiro se você conseguir.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.
Você pode dizer que sou sonhador,
Mas eu não sou o único.
E o mundo viverá como um só”
As frases acima foram retiradas da letra da música Imagine, escrita por John Lennon, lançada em 1971 tomada como hino à paz mundial. Talvez não seja mesmo possível o mundo cantado por Lennon. A música foi fruto de um outro momento. Outros tempos, outras motivações. De lá para cá o mundo mudou muito.
Imaginar como seria o mundo de acordo como a letra da música, seria o fim das idiossincrasias humanas e, numa visão mais fatalista, talvez o fim da humanidade, pois o ser humano é constituído, em sua essência por contradições e a humanidade é de uma complexidade muito maior do que propõe a letra da música. Mas entendamos apenas como licença poética, afinal um dos papéis dos poetas é nos levar a sonhar e imaginar que o sonho pode ser melhor que a realidade e a poesia têm a função de nos levar a pensar e até nos estimular a transformar sonhos em realidade. Conseguiu-se, ao longo dos últimos 20 anos, conquistas sociais que seriam inimagináveis em outros tempos e talvez Lennon já tivesse escrito outros hinos tratando do assunto.
Temos que concordar que as diferenças de crenças e valores talvez estejam entre as maiores riquezas dos seres humanos. Vivemos tempos incríveis, de novas descobertas, novas tecnologias, avanços nas mais diversas esferas _ social, política, no campo das pesquisas médicas, farmacêuticas, das tecnologias de informações e telecomunicações, desenvolvimento de novos produtos e processos. Se pensarmos bem, nenhuma dessas conquistas e avanços se deu sem alguma crise, em maior ou menor grau, com maior ou menor impacto, seja nos respectivos setores ou na sociedade.
Crise, etimologicamente vem o grego “krisis” e quer dizer: “ação de separar, de romper”. Crises representam momentos especiais para renovação, para se desfazer do velho que não funciona mais e para que surja o novo. Podemos olhar a situação sendo vítima das circunstâncias, com um olhar pessimista e achar que estamos acabados liquidados, que é o fim, ou entender que podemos ser agentes e que podemos agir e tirar o melhor proveito da situação.
É a oportunidade de refletir, repensar, agir e reposicionar. Muita gente só tem esse tipo de atitude em situações como essa, quando são arrancados da sua zona de conforto e arremessados para a zona de pânico. Crises são ótimas oportunidades para se descobrir coisas novas. A crise tira as pessoas, necessariamente da zona de conforto, e isso não é ruim! A questão não é a crise, senão o que fazemos com ela. Que aprendizado podemos tirar desses momentos.
Por mais que se tente comparar crises, elas são diferentes. Pois o momento, as influencias, os valores e interesses mudam com o tempo. A pior é sempre aquela que a gente está vivendo agora, a do momento presente. As que já passaram já foram superadas, bem ou mal e contribuíram para que pudéssemos aprender. Se o problema não tem solução, já está solucionado, não adianta ficar se desgastando. Agora, se tem, vamos arregaçar as mangas e começar a fazer. Ficar sentado, reclamando da vida, das circunstâncias e não fazer nada, não vai mudar nada mesmo! É preciso ter CORAGEM e AGIR.
Se bem aproveitado, o momento servirá para transformar e melhorar as regras e relações pessoais, profissionais, governamentais. Poderá, servir para que as pessoas, físicas e jurídicas repensem e se adequem às novas demandas e apelos de vários segmentos sociais, sejam elas de sustentabilidade, inovação, responsabilidade social, transparência, ética e quem sabe, menos ganância.
A ganância, que é um sentimento humano e destrutivo, permeará nossa existência em maior ou menor grau, é caracterizada pela vontade de possuir somente para si, em detrimento do outro. É certo que vivemos sob a égide do capitalismo e de um consumismo exagerado que até pode favorecer o desenvolvimento de pessoas gananciosas que querem sempre mais. Parece não haver limites para o querer e o possuir. Trata-se de uma sedução em grade escala, pois o dinheiro aparentemente pode comprar tudo e todos e muito do que vemos nas mídias diariamente nos faz crer que não há mais salvação. Mas não é bem assim.
O que se apresenta numa visão mais ampla não é apenas uma crise financeira mas, uma crise de valores. Os valores humanos e humanitários estão sendo usados como excelentes campanhas de marketing por algumas instituições que, por tras dessa fachada social e politicamente correta, cometem todo tipo de abuso, finaceiro, principalmente.
Sem dúvida que existem pessoas bem intensionadas e que levantam bandeiras, defendem questões sócio-humanitárias e fazem o bem, senão não teríamos as conquistas acima mencionadas. Quero acreditar que essa crise financeira e de valores resulte em mudanças positivas para a sociedade, pois sentimos e sentiremos todos o impacto e as consequencias dos acontecimentos. Para alguns será uma marola, para outros uma tsuname, mas que o processo de aprendizado, de autoconhecimento de readequação e de novas condutas sejam para todos. Vale a pena pensar no que disse Gandhi “nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como o oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele não quer dizer que ele esteja sujo por completo”.
Trabalho com pessoas há mais de vinte anos e posso garantir que as pessoas são capazes de fazer coisas belas e extraordinárias. Quando definem seus objetivos, investem suas energias nesse propósito e acreditam que conseguirão e perseguem seus objetivos obstinadamente. A paralisia acontece diante do medo. O medo, portanto, é o maior inimigo, não a crise. A crise está fora e o medo está dentro.
Você pode fazer a diferença. Faça!
(*) Adriana Gomes
Mestre em Psicologia – UNIMARCO, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga, (CRP 30.133), Coach certificada pela Lambent do Brasil e reconhecida pela ICC – International Coaching Community. Carreira de 20 anos nas áreas organizacional e clínica (Psicoterapia, Orientação de Carreira). Ex-vice-presidente do Grupo Catho, empresa onde atuou com Executive Search e Outplacement atendendo empresas nacionais e multinacionais de grande porte. Professora do curso de pós- graduação da ESPM na Cadeira de Gestão de Pessoas, atuou como Professora do Instituto Pieron de Psicologia Aplicada no curso de Especialização em Orientação Profissional. Orientadora de Carreira para alunos do curso de MBA da ESPM, membro da ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, Autora do Livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade, palestrante e Diretora do site www.vidaecarreira.com.br