(*) Adriana Gomes
O número de profissionais frustrados em relação à escolha profissional ou mesmo quanto ao rumo que a carreira foi sendo levada ao longo dos anos é muito grande. Uma pesquisa realizada pela HLCA Human Learning com dez mil profissionais de empresas de médio e grande porte de todo o país, com profissionais entre 18 e 60 anos de todas as camadas sociais, afirma que 78% dos entrevistados responderam que não estão felizes.
Vivemos num mundo com mudanças aceleradas e constantes e a maioria delas acontece sem passar pelo crivo de escolha do indivíduo. O resultado dessa aceleração vai se refletindo no modo de vida das pessoas que tratam a própria vida como se estivessem num estabelecimento de “fast food”. Pedem o combo da vez e esperam receber tudo rapidinho. É claro, que nessa relação custo-benefício, muito da qualidade é perdida, mas atende a necessidade básica de alimentação rápida. A questão é que se pensamos em curto prazo até parece bom, mas em longo prazo essa equação fica perigosa para a saúde.
A mudança de hábito, como já exaustivamente pesquisada, para ser duradoura, leva tempo. E quantas pessoas estão efetivamente dispostas e investir o seu rico pouco tempo que sobra fora do trabalho para pensar e agir para mudar?
Há anos venho me dedicando à orientação profissional e de carreira e confesso, que também fico frustrada quando vejo pessoas que iniciam um processo de mudança com um discurso intenso e verdadeiro de mudança profissional e abandonam esse projeto após três meses. Sempre informo que não se trata de um trabalho fácil e muitas vezes nem tão agradável é durante o processo. Informo que pode levar mais de seis meses, pois é praticamente um processo de reconstrução da identidade. Não é um processo “fast”. Não estamos falando de estabelecimentos de “fast food”, quando se busca uma Orientação Profissional e de Carreira, estamos falando de orientações e ações que vão impactar em todas as esferas da vida e por muito tempo. Aliás, quando se trata de indivíduos os processos de mudança tendem a ser bem mais lento do que gostaríamos.
È impensável iniciar um projeto sem pensar em autoconhecimento, em reconhecimento e apropriação da própria vida e dos processos de escolha pessoal. Tão pouco é possível imaginar mudar sem pesquisar sobre as áreas de interesse. Não é concebível, nos dias de hoje, se contentar com breves descrições em guias de estudante e com pesquisas virtuais, ainda mais quando já se sentiu o dissabor de uma escolha inadequada. É preciso ir mais fundo, fazer uma boa sondagem do mercado, conversar com profissionais, conhecer o local de trabalho, como é feito e “os ossos do ofício”.
Se a questão for empreender, também é preciso autoconhecimento e avaliação do perfil em relação ao projeto que desejam colocar em prática. Há pessoas que não apresentam o conjunto de características básicas necessárias para ser empreendedor em seu próprio negócio, mas pode ser um bom empreendedor dentro de uma empresa. E isso também é importante ter consciência.
Não é possível também imaginar que mudar de atividade profissional esteja desvinculado das questões financeiras. Toda mudança pode gerar perdas iniciais no que se refere à remuneração. Isso é válido desde a troca de emprego até mudança de carreira. Além disso, muitas vezes é preciso investir na aquisição de novos conhecimentos – cursos de extensão, pós-graduação e até uma nova faculdade pode ser necessário.
Rever o seu papel dentro do contexto social em que se está inserido é outro aspecto que se deve levar em consideração. Isto quer dizer: “ O quanto estou disposto a perder o meu “status” atual para correr o risco de fazer algo diferente?” Vivemos numa sociedade em que alguns rótulos são extremamente valorizados (títulos de Executivo, Gerente, Diretor, CEO`s, CFO´s, etc…) e é claro, acostuma-se com as vantagens que isso pode trazer, mas a mudança implica em abrir mão de algumas coisas para conseguir outras. Nem sempre isso é fácil. Nem sempre isso é rápido.
Outro ponto importante a ser considerado são as pressões sociais e familiares algumas veladas e outras explicitas que, direta ou indiretamente acabam formatando as escolhas profissionais e pessoais. As auto-exigências em relação a conquistas de bens materiais, e acúmulo financeiro, além de bem estar e qualidade de vida, também vão somar nessa aritmética.
Você tem o apoio de pessoas importantes e afetivamente comprometidas que incentivem o seu projeto? Se a resposta for sim, converse com elas. Seja claro quanto às suas intenções. Certifique-se de que entendeu os riscos envolvidos. Pode ser que encontre resistências e dificuldades e esse aspecto pode comprometer todos os outros. Isso é muito sério.
Por essas razões, apesar de sermos pressionados por tempos curtos e resultados rápidos, essa equação não se aplica nas questões relacionadas ao planejamento e mudança profissional e de carreira. Refletir e planejar por alguns meses, de maneira consciente e sistemática pode significar a diferença entre continuar insatisfeito, sem perspectiva até que chegue a aposentadoria quando se pensa “agora estou livre das obrigações e posso fazer o que quero”ou tomar as rédeas da própria vida hoje e fazer valer os seus projetos em todas as esferas da vida o quanto antes.
Bem, agora que você já tem uma idéia dos pontos a serem levados em consideração para programar sua jornada, mãos à obra. Estamos no começo de um novo ano, oportuno para iniciar novos projetos. Vamos lá?
(*) Profa. Adriana Gomes: Mestre em Psicologia – UNIMARCO, pós-graduada em Psicologia Clínica, Psicóloga, (CRP 30.133), carreira de 20 anos nas áreas organizacional e clínica (Psicoterapia e Orientação de Carreira). Ex-vice-presidente do Grupo Catho, empresa onde atuou com Executive Search e Outplacement. Professora do curso de pós- graduação da ESPM na Cadeira de Gestão de Pessoas, Professora do Instituto Pieron de Psicologia Aplicada, membro da ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais, palestrante e Diretora do site www.vidaecarreira.com.br
Boa tarde Profa. Adriana,
Estou passando por um enorme conflito e insegurança.
Tenho 46 anos e faz 4 anos e=que estou afastadas de empresas corporativas, pois estou lecionando e uma faculdade, mas com um desejo muito grande de retornar as atividades mencionadas
porém, com grande receio por conta da idade.
Poderia me ajudar?
Pra mim este quesito pesa muito, o que me deixa bastante frustada.
Certa da atenção e no aguardo