Eunice Mendes
…Você se lembra dos tempos de escola em que a classe inteira se reunia para o jogo de contar quantas vezes aquele professor chato pronunciava as palavras: tá?, né?, OK?, entendeu?, ou daquela instrutora que apertava nervosamente as mãos, estalando ruidosamente os dedos e andava de um lado para o outro, deixando os alunos tontos e perdidos com tamanha agitação?
Você deve se recordar também, daquele diretor de empresa que teve seus projetos recusados e a imagem arranhada por comunicações em grupo carentes de fluência, clareza e objetividade.
A maioria de nós já foi vítima de profissionais despreparados, que nos usaram como voyeurs de suas apresentações amadorísticas, marcadas pela insegurança, apatia e desconhecimento das técnicas necessárias à arte de falar bem em público.
Analisemos, então, alguns desses tipos de comunicadores cujos vícios de linguagem e tiques corporais transformam as reuniões, aulas e congressos em uma ameaça para os olhos e os ouvidos:
O TÍMIDO
Costuma falar em voz baixa e tem dificuldade em administrar o medo interno. Sente-se nervoso, tropeça nas palavras; a dicção e a articulação são deficientes. parece pedir desculpas por estar ocupando aquele espaço. Gagueja e, mesmo tendo se preparado e organizado, perde-se com freqüência.
As palavras são emitidas com dificuldade. Estar ali parece representar um grande sacrifício. Olha para o teto, para o chão ou para o nada, como se possuísse uma cortina diante dos olhos.
seu corpo mostra sinais evidentes de nervosismo: boca seca, respiração difícil, transpiração no rosto e nas mãos, o que o faz usar lenço com freqüência. Esconde-se atrás da mesa e do flip-chart. Segura chaves, canetas ou livros. Seus olhos mostram-se constantemente assustados, como se tivesse medo de ser pego em flagrante.
O EGOCÊNTRICO
Para ele, a platéia é um espelho gigante, que reflete todas as suas qualidades. O público está ali para servi-lo. A palavra eu é a mais importante de seu vocabulário. parece possuir um luminoso no corpo, onde está inscrito em letras garrafais: Sou o melhor. Aplica todas as regras da oratória para seduzir a platéia. Ele quer receber aplausos durante todo o tempo.
Criou um tipo que não abandona. É o exemplo do sucesso ambulante. Seus olhos são cifrões e o seu sorriso, profissional. Tudo é milimetricamente estudado. A técnica está acima de tudo. Em suas palestras, entrevistas e congressos, o que mais lhe interessa comunicar são os seguintes dados:
quantos cursos já realizou;
quantos livros escritos por ele já foram vendidos;
quantas pessoas já compareceram aos seus cursos;
quanto dinheiro já ganhou e
quantos títulos já conquistou.
Ele é a salvação! Por meio dele, chega-se ao reino do dinheiro e do sucesso!
O ERUDITO
Ele fala difícil, utilizando, por vezes, palavras em desuso. Cita freqüentemente frase de autores famosos. Mesmo percebendo que seu público não o compreende, emprega excessivamente palavras estrangeiras, gírias profissionais, linguagem técnica, porque essa é uma forma de usufruto do poder, uma forma arrogante de deixar claro que só ele conhece o assunto. Como seu prazer provém da exibição de sua cultura, não se preocupa em obter feedback da platéia. Suas idéias são herméticas e vêm acompanhadas de frases rebuscadas. Quase não utiliza recursos audiovisuais; prefere ficar sentado e empregar um tom professoral. Por julgar que sua cultura o exime de qualquer questionamento, não admite interrupções nem contestações.
O HIPNOTIZADOR
Expressa-se de forma muito p a a a u u s a a d a a a …
causando s o o o n o o l ê ê n c i a a a a … n a a p l a t é é i a a a…
Quando formula o início de um conceito, o público já adivinha a conclusão.
O MODESTO
É aquele que sempre se posiciona de forma subserviente em relação à platéia.
Em minha modesta opinião,…
Não sei se vou conseguir, pois não tenho a cultura nem a experiência necessárias, mas vou tentar explicar aqui, como um escravo da profissão…
Desculpem as minhas falhas, são fruto da minha ignorância.
Termino aqui porque era só o que eu tinha a dizer.
Não estou à altura desta seleta platéia.
Perdoem-me por ter roubado o tempo de vocês.
O VERBORRÁGICO
É extremamente prolixo. Fala sem parar, porque considera suas idéias as mais interessantes. Ama o som da própria voz e, para ele, o silêncio é crime. Parece uma metralhadora vocal, expressando-se para si mesmo. Quase não dirige o olhar para a platéia. Além disso, como quer ter absoluta certeza de que o público o ouviu, usa as seguintes expressões em seus finais de frase: Estão me compreendendo? Perceberam onde quero chegar? Entenderam onde está o cerne da questão? Está tudo claro, não é? Posso continuar? Vocês têm certeza de que estão acompanhando meu raciocínio? É importante que vocês não se percam; por isso, prestem bem atenção…
O DESPREPARADO
Ele aceita o convite para a palestra, mas confiante na ajuda divina, não se prepara. Planejar é perda de tempo e o improviso, excitante. Por isso, ele desconhece as necessidades do público e não sabe o que dizer, nem como dizer. Suas idéias mostram-se confusas, porque lhe faltam objetividade, coerência, fluência e poder de síntese.
Não sabe utilizar os recursos audiovisuais: suas transparências nunca estão na ordem correta, além de serem de péssima qualidade (com letras manuscritas miúdas). De costas, ele tenta lê-las para a platéia. Seu material de trabalho (pilhas de livros e de filmes) polui todo o ambiente. Tropeça nos fios, deixa cair objetos. Sempre se tem a impressão de que, para ele, o evento foi uma surpresa, causando intranqüilidade em quem o assiste.
O ESPALHAFATOSO
Está sempre arrumando o cabelo e a roupa, contemplando as próprias unhas. Utiliza o vidro da janela da sala como se fosse um espelho. Seus gestos são largos e ininterruptos, porque buscam tornar suas palavras mais eloqüentes do que realmente são. Tudo nele é excessivo: o colorido das roupas, a largura da gravata. Seus trajes gritam todo o tempo. É praticamente impossível prestar atenção naquilo que ele diz.
É pois, produtivo que se evitem essas barreiras verbais e não verbais para que as apresentações em público sejam motivo de aprendizagem e prazer e não perda de tempo e suplício para a platéia.
OBS. Material retirado do seminário do MVC – Instituto M. Vianna Costacurta Estratégia e Humanismo – Falar em Público: Prazer ou Ameaça?
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