COUNSELING, COACHING & CIA.

Conta-se que quando Von Martius, naturalista e pesquisador alemão, esteve no Brasil, entre 1817 e 1820, com a missão de catalogar botanicamente as plantas nativas, costumava levar consigo um caboclo que lhe servia de guia e o informava sobre as denominações locais das diversas plantas. A cada planta classificada, de acordo com padrões botânicos, o cientista perguntava ao guia qual o nome popular daquela planta. A resposta, invariavelmente, era: Ah!, isso é mato-à-toa. E o botânico anotava: “planta xyz…, vulgo, matato

Na primeira apresentação do tema “COUNSELING”, citamos outras modalidades de atendimento personalizado que costumam vir apresentadas como fazendo parte do mesmo bloco: “COACHING” e “MENTORING”. Realmente, há parentesco entre as três práticas em função do objetivo cumprido por elas: Desenvolvimento de pessoas, de forma preferencialmente individualizada. Como cada uma dessas práticas tem sua especificidade, justificam-se denominações diferentes.
As palavras existem para sinalizar conceitos diferentes e a riqueza de um idioma se revela na capacidade de criar sinais diferentes para coisas diferentes. Do contrário, tudo seria “coisa” ou “troço” ou, como dizia o caboclo: “mato-à-toa”. Counseling, coaching e mentoring são “coisas” diferentes, logo devem ter denominações próprias.
 Apesar de o Counseling ser a prática historicamente mais antiga dentro das organizações, não é a mais divulgado. O mais divulgado e mais conhecido (pelo menos o termo) é o Coaching. E aqui começa uma certa confusão. Coaching, em seu sentido original, nada mais é do que o papel que deve ser cumprido por qualquer pessoa em posição de comando. Além de comandar, controlar e cobrar, todo supervisor em qualquer nível deverá: treinar, orientar, incentivar seu subordinado.
O assunto “coaching” poderia encerrar-se por aí. Porém, a cada dia, mais e mais profissionais que não pertencem ao quadro de comando da empresa, mas prestam consultoria à mesma, praticam um tipo de atividade a que atribuem a mesma denominação: “coaching”.
O que ocorre nesses casos é um procedimento de delegação. Dadas as dificuldades encontradas pelos exercentes de cargos hierárquicos na execução do papel de “coach”, especialmente junto a profissionais mais qualificados, a direção da empresa prefere delegá-la ao consultor externo. Este conhece a empresa e seus problemas, tem formação e preparo intelectual e, acima de tudo, tem maturidade (senioridade); condições estas que o tornam competente para exercer a função vicária de orientação e aconselhamento dos quadros da empresa.
É evidente que o “coaching” exercido pelo consultor, na forma e no conteúdo, não é o mesmo que deveria ser praticado pelo superior hierárquico do orientando. O tipo de relação que se estabelece entre consultor e orientando tem muito pouco a ver com o que se estabeleceria entre superior e subordinado.
Por que então empregar o mesmo vocábulo para indicar realidades diferentes? Isso pode parecer preciosismo da minha parte. Por mim criaria denominação mais chegada à realidade, por exemplo, “consultoria personalizada” ou, para não perder a rima: “personal consulting”. Mas não adianta reclamar; o emprego da palavra “coaching”, para designar a atuação do consultor, pegou e pegou de tal forma que sua designação original – papel a ser exercido por alguém com funções de comando – praticamente perdeu-se.
Minha tese: “Realidades diferentes, palavras diferentes” – vai para o banco de reserva.
WALDIR BISCARO – psicólogo
(Autor do livro: MATURIDADE E PODER PESSOAL –Ed. Brasiliense)
Fone: 5084-4336 e-mail: awbiscaro@uol.com.br

1 comentário em “COUNSELING, COACHING & CIA.”

  1. Tenho que admitir que achei seu blog excelente, pois seus posts são sempre muito bem elaborados. Carecia mesmo aprender mais sobre isso e você elaborou uma grande fonte de informações aqui. Virei seu fã e comentarei com meus conhecidos sobre seu blog. Continue assim!

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