CUIDADO !!!!! EMPRESA …

.Waldir Biscaro

Muitas vezes o ingresso em uma empresa lembra a história da “Cruzada dos Meninos” (séc. XII). Em síntese, a história é a seguinte: Entusiasmados com os relatos das cruzadas e da libertação dos lugares santos dominados pelos “infiéis”, um bando de meninos, comandado por um deles mais fanático, consegue embarcar em navio ancorado em algum porto distante. O navio os levaria a Jerusalém, para combater os maometanos. Aconteceu que o tal barco era de piratas e os meninos  foram vendidos como escravos, no norte da África.
Todos os anos, novas levas de jovens ingressam  no mercado de  trabalho, nas mais diversas empresas, na esperança de lá encontrar sua realização, sua autonomia, seu crescimento como pessoa. Passados alguns anos, muitos se dão conta de que entraram em um navio pirata.
 
O desencontro entre as expectativas do indivíduo e a realidade do trabalho é apenas uma das causas da penúria mental a que são levados não só os jovens trabalhadores, mas também  os veteranos que buscam novas oportunidades na ilusão de encontrar melhores condições de realização no próximo emprego.
Quando se ingressa em uma organização, ninguém o faz para descansar – empresa não é clínica de repouso. Ninguém o faz para se divertir – empresa não é clube recreativo. Ninguém o faz para se tratar ou se curar – empresa não é estação de águas. Ingressa-se em uma empresa para produzir bens ou para prestar serviços. Ao fazer isso, deveria o trabalhador sentir, ao final de cada jornada,  satisfação pelo que produziu e orgulho ao se perceber alguém que contribuiu para a melhoria de vida de outros cidadãos. A reprodução de tais sensações no dia-a-dia, com certeza, tornaria o trabalho um dos fatores mais relevantes, senão o mais relevante na produção de saúde e de bem-estar emocional das pessoas. Entretanto, não é bem isso que ocorre. Por que será?
Poderíamos apontar uma série de prováveis causas que vão desde o próprio indivíduo – despreparado para assumir responsabilidades – até enfermidades institucionais que contaminam o ambiente e impedem qualquer relação mais saudável entre empresa e trabalhador.
As condições inadequadas do indivíduo para o trabalho são mais conhecidas e mais freqüentemente analisadas. Menos conhecidas e menos comentadas são as enfermidades organizacionais. Muita gente fala  em empresa doente, sem no entanto, ter à disposição alguma sistematização dos tipos de enfermidades. São referências apenas metafóricas, como quando se diz: tal empresa é paranóica, tal outra é esquizofrênica e por aí afora.
Temos de partir da seguinte premissa: empresa é um agrupamento de pessoas, não de anjos. Mesmo que tais pessoas estejam identificadas em torno de um objetivo comum, elas continuam a manter suas diferenças individuais, são falíveis, limitadas e muitas vezes frustradas e sofridas.
Se os membros que compõem a organização são vulneráveis, também ela será vulnerável e sujeita a todo tipo de distúrbios. Não que a organização seja o resultante da simples somatória de seus componentes, mas fica difícil desatrelar uma realidade da outra.
Enfermidade é disfunção, um desencontro entre os componentes de um todo orgânico. Empresa é organismo composto de diversos elementos que deveriam se ajustar harmonicamente dentro desse todo. Essa harmonia, infelizmente, é constantemente afetada por dentro e por fora, resultando daí desequilíbrio entre as partes e conseqüente desafinação
Waldir Biscaro
(Autor do livro: MATURIDADE E PODER PESSOAL –Ed. Brasiliense)
Fone: 5084-4336
e-mail: awbiscaro@uol.com.br

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