ASPECTOS DA ENTREVISTA DE SELEÇÃO

José Jorge M. Zacharias

Geralmente os processos de seleção utilizam-se de entrevistas. Estas entreistas podem ser classificadas, grosso modo, em dois tipos: dados sócio profissionais e entrevista psicológica.Na entrevista de dados sócio profissionais o foco de atenção é a experiência profissional e dados sociais do candidato. Qual a formação específica, últimos empresas em que trabalhou, quais as funções, quais as principais realizações, conhecimentos e experiências agregadas, interesse profissional e outras informações objetivas sobre o candidato. Esta entrevista tem a função de discutir e ampliar dados que foram expostos no currículo do candidato, oferecendo oportunidade para que as experiências profissionais sejam discutidas mais detalhadamente.Na entrevista psicológica o foco desloca-se para o indivíduo como um complexo vivo de experiências, desejos, valores, crenças, necessidades, afetos e fantasias. A atenção do entrevistador desloca-se para os aspectos subjetivos do candidato.
Quais os fatores que levaram o candidato a escolher determinada formação e carreira? Neste ponto poderemos investigar quais os interesses e fantasias que motivaram a escolha profissional, ou mesmo quais as circunstâncias socio-econômicas que determinaram estas escolhas. Ainda neste caminho, podeemos averiguar o grau de satisfação pessoal com esta escolha.
Como o candidato interpretou internamente as experiências profissionais? Neste campo poderemos investigar como o candidato elaborou a obtenção de sucessos e frustrações ao longo da experiênia profissional e, concomitantemente, como o candidato lida com aspectos fundamentais, tais como: frustração, pressão profissional, ser liderado, liderar, relacionamento pessoal, estresse, reconhecimento e status dentre outros fatores.
Do campo das experiências profissionais é possível migrar para o campo pessoal. Nesta área poderemos investigar quais os valores e crenças que o candidato desenvolveu sobre a atividade profissional e sobre sua postura pessoal frente à vida. Traços de positivismo, persistência, disciplina e flexibilidade transparecem ao longo do diálogo. Estas narrativas apontarão para a qualidade do equilíbrio emocional do candidato ao lidar com situações delicadas ou com pessoas.
Nas entrelinhas deste discurso poderemos observar quais os elementos éticos que norteiam a postura pessoal do candidato, qual o sentido que ele atribui à sua vida pessoal.
Sem dúvida, a tendência do candidato é a de passar uma imagem mais positiva possível, politicamente correta e socialmente aceita. No entanto é justamente neste ponto que entra a experiência do entrevistador na “escuta psicológica”; ou seja, atentar para as lacunas e incongruências ao longo do discurso do candidato. O esforço por manter uma postura falsa não resiste à avaliação crítica que constantemente está relacionando dados e checando a congruência do discurso apresentado. Informações contraditórias ou que omitam lementos devem ser repassadas para que se possa ter uma adequada visão da estrutura do candidato.
A entrevista psicológica aprofunda a percepção que se tem do candidato, levantando a dimensão humana intra-psíquica, em certa medida, a se revelar .
No entanto, sempre é bom lembrar que não existe o candidato perfeito e não existe uma pessoa perfeita – aliás, quanto mais uma pessoa se esforça para ser perfeita, mais tensão interna ela sofre. Todos nós vivemos conflitos interiores e temos dificuldades pessoais. A questão é como elaboramos estes conflitos, de maneira criativa ou regressiva. O importante não é a perfeição, mas a integridade de personalidade, como já dizia Carl Gustav Jung.
Quais os riscos que o selecionador corre duante uma entrevista?
Bem, este é um outro assunto!
José Jorge M. Zacharias
(é psicólogo, analista, consultor da BPZ e do Grupo Catho. Zacharias é
doutor em psicologia social e docente na UNICID – Universidade da
Cidade de São
Paulo)
email: zacha@sti.com.br

Deixe um comentário